Fotos do arquivo pessoal de Janaina Leocadio.
Por
que curtir tanto sol
Enrugar
o rosto, calejar as mãos
Navegar
com força
E
até esquecer os desejos do coração?
Por que navegar é preciso
Poesia “Pescar é
preciso” feita por Luzanete Lima, pescadora de Taiba,
São Gonçalo do Amarante – CE.
Em meio ao que estamos vivendo
devido a pandemia do coronavírus, não poderíamos deixar de continuar nossa proposta
de homenagear as mulheres ilhagrandenses, por mais que o momento seja difícil.
Hoje vamos falar um pouco sobres as
marisqueiras da nossa ilha! Os trechos da entrevista aqui apresentados, são
referentes a uma conversa realizada no início de 2019 com dona Luiza,
marisqueira conhecida que foi presidente da Associação das Marisqueiras com
sede na comunidade Tatus. Nosso texto busca dar foco a essas mulheres que
representam todas ilhagrandenses, que com força, vão além de todos os rótulos e
toda invisibilidade que as permeia.
Em nossa região temos figuras bem conhecidas.
Nossos pecadores, catadores de caranguejo, que são conhecidos pelo ofício e
como resultado do conhecimento dessa categoria, temos a colônia de pescadores, o
festival do caranguejo e pelo menos, uma dezena de associações.
Porém, não são somente esses homens
que adentram o rio em busca do seu sustento, na Ilha temos mulheres que pescam,
e temos também as marisqueiras. Não é de surpreender que o trabalho dessas
mulheres não seja tão visto. Vivemos em uma sociedade patriarcal onde a mulher
vive silêncios dos seus ofícios, o trabalho feminino é visto como secundário ou
apenas uma complementação do trabalho masculino, tendemos a invisibilizar as
mulheres.
Elas saem sedo de casa, carregam as
canoas com os instrumentos de trabalho, sendo o mais importante o Landuá, adentram
o rio atentas as marés e quando chegam no local propício enfrentam o sol,
sentadas na lama catando o marisco.
“Abrindo um parêntese para a experiência que
tive ao vivenciar esse momento junto as marisqueiras, só posso dizer que tenho
todo respeito e admiração por esse ofício, que mostra o quanto a expressão
“sexo frágil”, é um clichê de pessoas que jamais olharam para além da própria realidade,
que o trabalho delas deveria ser bem mais valorizado, que diminuir o ato de
mariscar é algo de imensa ignorância, e
essas mulheres depois de enfrentarem um dia de sol e trabalho, fazem jornada
dupla cuidando dos seus lares.”
Thalita Nascimento de Souza, historiadora pela
UESPI- Parnaíba, colaboradora do Carta Ilhagrandense.
O grupo das marisqueiras já existe
a bastante tempo em Ilha Grande e o ato de mariscar é ancestral, nesse grupo
muitas mulheres buscam o sustento da família por meio da cata do molusco.
Durante a conversa com dona Luiza, ela nos fala sobre a importância da renda
para as mulheres, “O marisco é um
dinheiro a mais pra nós, a gente cata e vende, também deixa em casa pra
comer...”, além da comercialização do produto, ele também é alimento para
as famílias das catadoras.
Hoje a Associação das Marisqueiras
é um movimento forte na busca de direitos e valorização do trabalho dessas
mulheres que exercer outras atividades enquanto grupo.
“Nós hoje conseguimos
muita coisa, vem o pessoal dos projetos, a também corre atrás, sempre aprende
uma coisa nova, a gente trabalha com o artesanato e nossa horta, vai pra cidade
na Universidade vender nossas coisas e as pessoas saber que a gente tá aqui.”
Maria Luiza Sousa
Santos, Marisqueira ilhagrandense.
O marisco ainda é um produto pouco comercializado,
a própria culinária não valoriza muito, quantos restaurantes na nossa região
apresentam o marisco no seu cardápio?
É importante ressaltar, que o
trabalho dessas mulheres se mantém forte pela vontade e pelo oficio que elas
exercem. Dona Luiza que foi presidente da associação por muito tempo, diz que
todo esse período sempre participava de eventos em busca de melhorias que
trouxessem o reconhecimento para o trabalho delas: “eu já participei de muita coisa, das reunião que tinha, as meninas já
viajaram pra congresso sempre tentando trazer uma novidade pra gente melhorar
aqui”.
Hoje a associação é visitada por
muitos grupos, universitários, ONG’s... dona Luiza diz que essa troca é benéfica
para elas, por que elas aprendem sobre muitas coisas e as pessoas passam a
conhecer o trabalho delas:
“Vem muita gente atrás de nós, estudantes
fazendo pesquisa, pessoal das ONG’s, gente querendo conhecer o que a gente,
ajudar o nosso trabalho, tem os grupos que traz palestras, as meninas que faz
brincadeiras com as crianças pra gente isso é muito bom por que a gente aprende
muito as pessoas conhecem a gente e também ajudam a gente com projetos."
Maria Luiza Sousa
Santos
Um prêmio recente que a associação
conquistou, foi o prêmio de inclusão social, numa troca de conhecimentos com o coletivo
feminista Mulheres em Pauta, que tem como objetivo o empoderamento e
informação, para o beneficiamento do produto das marisqueiras, além da
comercialização do marisco, elas passaram a comercializar o pó feito das cascas
de mariscos, que são residuais do trato do produto, as cascas são trituradas e
comercializadas, o pó das cascas se torna um adubo bastante eficaz.
“Eu gostaria de agradecer esse prêmio porque
nosso serviço é muito difícil, a gente depende da maré, eu faço isso há 18 anos
e garanto que no meio das novas não estou perdendo muito para elas não”,
Fala de dona Luiza ao receber esse prêmio.
Precisamos aprender a conhecer e
valorizar os ofícios da nossa região, principalmente das mulheres, o ato de
mariscar está em nossas tradições, diz muito sobre nossa identidade, sobre o
que somos. Reconhecer o trabalho dessas mulheres é reconhecer o que nos faz
ilhagrandenses.
Parabéns as nossas mulheres das águas!
Ilha Grande - PI, 31 de março de 2020.
Dos Autores em quarentena
Para o povo em quarentena.
Fotos do arquivo pessoal de Janaina Leocadio, mostrando dona Luiza, nossa entrevistada, no processo de beneficiamento do marisco.
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