“Nas
crises comerciais são destruídas regularmente não apenas uma grande parte dos
produtos fabricados, como também das forças produtivas já criadas. Nas crises
irrompe uma epidemia social que teria parecido absurdo em épocas anteriores – a
epidemia da superprodução. Repentinamente, a sociedade parece retornar a uma
situação de barbárie momentânea; como se a fome, uma guerra de extermínio geral,
tivesse privado de todos os meios de subsistência; como se a indústria e o
comercio tivessem sido destruídos. E por quê? Porque ela possui muita
civilização, muitos meios de subsistência, muita indústria, muito comércio. As
forças produtivas, que estão à sua disposição, não servem mais como estimulo da
civilização burguesa e das relações burguesas de propriedade; ao contrário elas
se tornaram muito fortes para essas relações, e são por elas contidas; tão logo
elas rompam essas travas, toda a sociedade burguesa é lançada na desordem
ameaçando a existência da propriedade burguesa.” Esse texto, meu amigo
leitor, é de Karl Marx, filósofo, sociólogo, historiador, economista,
jornalista e revolucionário socialista; e com a ajuda dele o Carta irá, hoje,
tecer breves comentários sobre: o futuro do trabalhador autônomo Ilhagrandese.
Entendemos
como trabalhador autônomo Ilhagrandese a pessoa que: 1) mora em Ilha Grande e
trabalha de forma autônoma em Ilha Grande ou cidades vizinhas, como Parnaíba e
Luiz Correia;
2) mora nas cidades vizinhas, mas faz o emprego da sua força de trabalho, de forma autônoma, em Ilha Grande.
2) mora nas cidades vizinhas, mas faz o emprego da sua força de trabalho, de forma autônoma, em Ilha Grande.
Conversamos
com Carlos Barros, empresário ilhagrandense, dono da Pizzaria Dom Luíz. Ele que
atende uma média semanal de 150 à 300 clientes, dependendo da temporada, se vê
em um momento decisivo para a continuidade de seu empreendimento, pois prevê
uma queda de 70% nas vendas.
“O Cenário é preocupante, pois precisamos das vendas e assim garantir o
pagamento dos funcionários, aluguel, água, luz e nossas despesas pessoais.”
Carlos Barros.
A pizzaria
conta com 5 funcionários e Carlos vai fazer rodízio para que todos possam
continuar trabalhando, e para isso ele conta com um novo formato de vendas: Já adotamos a estratégia de atender somente
por entregas.
O Delivery, é
o sistema de entregas à domicílio, e já vinha fazendo parte da rotina de muitos
restaurantes, lanchonetes e comércios; ele pode ser um dos formatos de vendas
do estabelecimento ou pode ser contratado de forma independente, como os
aplicativos aiqfome e Ifood, que se encarregam de fazer a entrega de produtos
de forma independente.
“Como a burguesia supera as crises? Por um
lado, com a aniquilação forçada de uma massa de forças produtivas; por outro
lado, com a conquista de novos mercados e a exploração mais sistemática dos
velhos mercados. Mas de que modo?
Preparando crises mais universais e mais fortes, e reduzindo os meios de
preveni-las”.
No trecho acima, Marx
explica o que os donos de empresas precisam e irão fazer: “... aniquilação forçada de uma
massa de forças produtivas...”,
ou seja muitos irão perder seus empregos (guarde aqui: caixas de supermercados,
atendentes de lojas). “... conquista de novos mercados ...”,
o delivery é um exemplo. “... exploração
de velhos mercados”, as pizzarias, lanchonetes e comércios, que são
estruturas físicas e que não tiverem como adotar esse formato de maneira autônoma,
ficarão suscetíveis a contratar empresas de delivery independentes.
“Mas de que modo? Preparando
crises mais universais e mais fortes, e reduzindo os meios de preveni-las”.
Para exemplificar essa última parte, usaremos as conversas com Rebeca Andrade,
Guilherme Jorge, Patrícia Cruz e Gleisson Souza. Os quatro são trabalhadores
autônomos e usam principalmente Ilha Grande e Parnaíba, para fazer a oferta de seus
serviços.
A microempreendedora
parnaibana, Rebeca Andrade é artesã do ramo da costura e já faz entregas em
Ilha Grande desde o início do Ateliê Alternativo, há 5 anos. Ela usa vários
artifícios para expandir suas fronteiras de venda, como a entrega à domicilio,
propaganda virtual (redes sociais) e o uso da máquina de cartões, para ofertar
opções de pagamento e comodidade ao cliente.
“Com a demanda de encomendas crescendo, e muitas vezes as pessoas
desistiam de encomendar devido ao local de retirada ser um pouco longe. Vi a
necessidade de fazer entrega, combinei com meu companheiro dele me ajudar nessa
questão, pois na época não tinha transporte ainda. E por meio das vendas
consegui comprar uma moto, e a oferta da entrega já era algo natural, pois o
que muitos gostam é da comodidade de receber seu produto em casa.”
Rebeca Andrade.
Rebeca aposta
que, a comodidade do cliente será uma das ofertas mais importantes no
desenvolvimento das novas formas de trabalho, principalmente o trabalho
autônomo, e com a possibilidade do avanço do Corona, haverá uma supressão da
forma como lidamos com o dinheiro (capital em forma física).
“O uso da maquininha já era frequente e segundo orientação da OMS
(organização mundial da saúde), as cédulas de dinheiro podem disseminar o
corona vírus, e o melhor para o momento é o uso dos cartões de crédito e/ou
débito. Então a demanda pode aumentar significativamente para conter a
proliferação da doença e melhorar a comodidade do cliente. Sem falar que o
dinheiro recebido pela máquina de cartão cai em um dia útil! Muito bom né?”
Rebeca Andrade.
Para garantir que seus produtos
sejam vendidos, outra estratégia é a divulgação, o marketing virtual.
“O uso das redes sociais é o meu aliado nesse ramo. Fazer postagens de
qualidade e diárias, para que o engajamento não caia, se preocupar sempre com o
que as pessoas acham do serviço ofertado, procurar melhorar em todos os
aspectos, oferecer brindes para clientes contínuos, dá a certeza que eles ajudam
na divulgação; fazer parcerias com outras pessoas, sorteio via instagram, promoções
e descontos também aumentam o alcance da rede de clientes.”
Rebeca Andrade.
Guilherme
Jorge, fundador e sócio da microempresa ilhagrandense FG TECH - soluções em informatica, presta serviços
de assistência técnica e suporte de computadores, micro computadores e
smartphones em Ilha Grande, Parnaíba e Luiz Correia. Ele acredita que seu
mercado não será o mais afetado, por um lado, as pessoas passando mais tempo em
casa necessitarão de ajustes em seus computadores e celulares; por outro lado,
ele explica que, o modelo delivery de busca e entrega, já era o formato mais
comum da prestação de seu serviço. Mas se preocupa, segundo ele, com “a probabilidade
das baixas da economia” e continuará trabalhando no período de quarentena,
porém vai redobrar os cuidados.
“Vou usar máscaras e álcool gel, manter o distanciamento de 1 metro e
sem contato físico. As recomendações feitas”.
Guilherme Jorge.
Aproveitamos
que ele é formado em história pela Universidade Estadual do Piauí - Parnaíba e
perguntamos sobre: como ele vê a mudança, que está acontecendo e que a maioria
não percebe, a revolução do modo em que usamos o “dinheiro”?
“Basicamente já estávamos em transição com as transações on-line, agora
vai só aumentar”.
Guilherme Jorge.
Rebeca e
Guilherme seguem em uma mesma linha de pensamento, relacionada às suas ofertas
de serviços, e fazem parte de um grupo que, embora sofra com o déficit do
mercado atual, já buscava interagir com as tecnologias, visando o aprimoramento
da sua autonomia, desde o início de suas carreiras.
Patrícia Maria
Cruz, que também faz parte do microempreendedor Ilhagrandese, porém por mais tempo que Rebeca e
Guilherme. Ela faz bolos confeitados para as datas comemorativas, desde os ano
90 e conta com clientes fiéis, ilhagrandenses e parnaibanos. Com o avanço da
pandemia, já pensa em aplicar a opção de pagamento no cartão de crédito e
débito, para dar opções ao cliente e pensando na baixa circulação de notas no
pós quarentena, porém se vê ameaçada por não ter um sistema de entrega.
Para ela, o
fato de o período da quarentena coincidir com o pico de procura por seus bolos
e a condição das pessoas estarem em casa; são lembretes de Deus para a tradição
cristã do final da quaresma. Dona Patrícia lembra que na sua
infância/adolescência, os costumes de se recolher em casa, não fazer vendas
(alguns tinham receio até de tocar nas cédulas de dinheiro e de tomar banho),
ser solidário ao próximo e passar mais tempo com a família em oração; eram
fortes, e que essa freada no sistema capitalista, irá fazer as pessoas reatarem
com hábitos antigos. Mas deixa de perceber o quanto o sistema capitalista
permeia sua vida.
Quisemos saber,
se ela pretende fazer os famosos bolos dos jejuns da Sexta-feira Santa, e ela
responde:
“Vou vender bolo na Semana Santa, é o jeito né? O quê que a gente pode
fazer? É o único meio de ganhar dinheiro é esse, tem que vender.”
Patrícia Cruz.
“A
burguesia arrancou das relações familiares seu véu pungente e sentimental,
transformando-as em uma mera relação de dinheiro.”
Karl Marx.
Gleisson Souza
tem 23 anos e trabalha como garçom nos bares e restaurantes de Parnaíba e Ilha
Grande, já trabalhou de forma autônoma, esporádica e informal, mas no início do
ano conseguiu contrato fixo. Ele hoje se questiona sobre, como será o
tratamento de seu patrão com relação a quarentena, e como isso vai implicar no
pagamento de seu salário.
“Preocupado, não por mim, porque mesmo eu
doente, eu não vou no hospital, mas minha filha sim. Me preocupo pela minha
filha que tá por vir esse mês e tá acontecendo tudo isso...”
Gleisson Souza.
“Os custos gerados pelo trabalhador limitam-se, portanto, quase apenas
aos meios de subsistência necessários para o seu sustento e sua reprodução”.
Karl Marx.
Nosso amigo
será pai em breve, com expectativas para esse mês (março/2020), será um momento
abençoado, no entanto carregado de preocupações. Para prevenir, ele já pensa em
maneiras de garantir a renda familiar e investe em propagandas para a aplicação
de um sistema que visa explorar o delivery. Indo fazer as compras para as
pessoas que estão em quarentena e quando tudo passar, ele aposta no desejo de
comodidade dos dias atuais.
Muito provavelmente,
pessoas como Dona Patrícia e Gleisson, formarão pares ou conjuntos complexos de
prestações de serviços conjugadas, e vão se ocupar em deixar as pessoas, cada
vez mais dentro de casa.
Lembra disso: (guarde
aqui: caixas de supermercados, atendentes de lojas)? Pois é.
“Nas
crises comerciais são destruídas regularmente não apenas uma grande parte dos
produtos fabricados como também das forças produtivas já criadas.”
Caixas e atendentes são exemplos de “... forças produtivas...” que inevitavelmente
serão, cada vez menos usuais, e para não perderem o seguimento, pessoas do
setor passarão de forma gradual para o novo mercado, porém nem todos terão essa
oportunidade. Não preciso recorrer aos acendedores de postes, telefonista ou os
barqueiros que, antes da construção da ponte Simplício Dias, se encarregavam da
travessia, para mostrar ao leitor que o modo de trabalho é dinâmico.
O conceito de Desemprego Estrutural é justo aquele
trabalhador que perdeu seu trabalho para os avanços da tecnologia, ele garante
a formação continua de Exército de Reserva,
que por sua vez, é a massa de trabalhadores desempregados, que aceitariam
qualquer forma de trabalho/pagamento sujeitando-se ao subemprego e a desvalorização
de sua classe. Essa mudança é inevitável, pois é condição para a manutenção do
capitalismo burguês e é o que congela o valor do salário, mas esse avanço terá
uma aceleração inimaginável para o trabalhador e a falta dessa informação deixará
muitos para trás. Pense ai, seu trabalho pode ser feito por uma máquina?
Ilha Grande – PI, 25 de
março de 2020.
Dos autores em quarentena
Ao povo em quarentena.
Postagem sobre o sistema delivery da pizzaria
Banner Ateliê Alternativo - Rebeca Andrade
Cartão de visita da FG TECH - soluções em informatica
Apresentação dos bolos a pronta entrega de Patrícia Cruz
Post de Gleisson Souza
Comentário mais que necessário neste momento meu jovem.digo: " é igual um balão cheio de gás hélio, pode soltar que sobe e ganha ares"!(grifo meu).
ResponderExcluirObrigado, contamos sempre com seu apoio!
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