Enfim, aconteceu a eleição municipal. Com uma abstenção de mais de 1000 eleitores, Ilha Grande decidiu pôr Marina Brito à frente da direção da cidade e hoje faremos uma análise dos dados da votação do dia 15 de novembro que decidiu os ocupantes dos cargos do Legislativo e do Executivo para os anos de 2021 à 2024.
O que é bom? Tudo o que aumenta o sentimento de poder, a vontade de poder, o próprio poder no homem.
O que é mau? Tudo o que brota da fraqueza.
O que é felicidade? O sentimento de que o poder aumenta – de que a resistência é superada.
Friedrich Nietzsche.
Primeiro falaremos da condição dos vereadores:
É preciso
saber inicialmente que as eleições para vereadores usam uma fórmula diferente
em relação aos prefeitos, estes são eleitos pela maioria e em cidades como Ilha
Grande, ganha quem for o
mais votado logo no primeiro turno, enquanto aqueles, os vereadores, seguem uma
proporcionalidade por partido; assim o partido que fizer mais votos garantirá
mais vagas na Câmara Municipal. Essa
proporcionalidade é garantida quando os partidos atingem uma certa “meta” de
votos, essa meta chama-se Quociente Eleitoral ou a popular “legenda”. Na
verdade os votos de legenda, são votos de pessoas que decidem beneficiar todos
os vereadores de um mesmo partido indiretamente. Você pode escolher um vereador
especifico, digitando os cinco números do candidato ou digitar somente os dois
primeiros e neste caso estará votando na legenda do partido.
O Quociente
Eleitoral só é conhecido ao fim da contagem dos votos, pois depende da quantidade
de votos válidos. Funciona da seguinte forma: contam-se todos os votos válidos
e este número deve ser divido pelo número de vagas para vereador na cidade. Em Ilha
Grande foram 6.621 votos válidos, que divididos por 9 (número de vereadores)
resulta em 735 este foi o Quociente Eleitoral Ilhagrandense em 2020, ou
seja, para que um partido pudesse garantir ao menos um vereador, seria
necessário que a soma dos votos para os vereadores e os votos para a legenda do
partido atingisse os 735 votos. Para que um partido faça dois vereadores
deve-se dobrar o quociente, sendo assim, seria necessário atingir 1. 470 votos e assim por diante, até mais nenhum completar o quociente, depois, se ainda
sobrarem vagas, observa-se as “sobras” entre os partidos e distribuem-se as vagas seguindo a ordem de maior sobra.
Em Ilha Grande
6 partidos concorriam as vagas do Poder Legislativo, a saber: PP - 11, PT – 13,
MDB – 15, PL – 22 , PSD – 55 e Solidariedade – 77. O PP e Solidariedade
formavam o bloco que representava Marina Brito; PT, MDB e PL compuseram o bloco
pró Bernadete Leal; e o PSD era o partido do candidato Edmar.
Quadro de votos para vereadores e legenda por partido.
Vamos a três
exemplos básicos da tal proporcionalidade. Observe o quadro a cima, meu primeiro
exemplo é o PSD, pelo partido concorriam: o Vereador reeleito Frank (389
votos), o Ex-Prefeito Paulo Rogério (156 votos), Raimundo Guarim (67 votos),
Antônia da Costa (54 votos), Ana Catarina (27 votos) e Binal do Artesanato (4
votos); o somatório dos votos para os vereadores (697) com os votos de legenda
(34) é igual a 731 nesse partido, sendo assim a soma não atinge um Quociente Eleitoral (735)
mas em compensação fica com a maior sobra, elegendo assim o mais bem votado do partido. O segundo exemplo desta condição é o PT, que pela primeira vez não atingiu o quociente, conseguindo apenas 492 votos, não elegendo
nenhum candidato e demonstrando o que foi apontado na Parte 2 dos textos anteriores. E o terceiro exemplo foi o PP e o MDB, que fizeram 3
vereadores cada, pois, depois que fizeram dois quocientes (1.470 votos) nenhum outro partido
conseguiu, logo as duas últimas vagas foram distribuídas para estes dois partidos.
É por este motivo que vemos vereadores com mais de 200 votos ficarem fora,
enquanto quem atinge menos que isso é eleito.
Henrique do Paulão (PP/11.555) –
427 votos
Ritinha do Dachaga (PP/11.175) –
422 votos
Frank (PSD/55.789) – 389 votos
Doutor (MDB/15.123) – 379 votos
Marlene Rodrigues (PL/22.345) –
236 votos
Marquim (Solidariedade/77.123) –
235 votos
Adilson Castro (MDB/15.555) – 230
votos
Julliane Feitosa (MDB/15.123) –
214 votos
Cristiane Santos (PP/11.111) –
179 votos
Este ano,
Adilson Castro Ex-secretário de Turismo, Julliane Feitosa filha da Ex-vereadora
Leila e Rita do Dachaga esposa do atual vereador e então eleito Vice Prefeito
Dachaga, são os novatos na Câmara. A candidata eleita Marlene Rodrigues já
esteve vereadora de 2013 à 2016; atualmente sua filha, Arady Rodrigues, está
vereadora até 31 de dezembro. Entre os reeleitos, apenas Henrique e Frank
conseguiram aumentar a votação em relação à 2016.
A concentração de eleitores dos
candidatos eleitos em 2020 diminuiu em relação a 2016; naquele ano, dos 7. 415
eleitores 38,84% votaram em candidatos que foram eleitos, enquanto em 2020, dos
8.063 eleitores, somente 33,62% votaram em candidatos que se elegeram. Em
2016, 184 eleitores anularam o voto para vereador e 83 apertaram a tecla branca,
já em 2020 esses números foram 203 e 82 respectivamente. Os números e as
condições de Ilha Grande são condizentes com as do resto do país.
ELeições 2020
o
Mais da
metade dos prefeitos e vereadores se elege novamente em 2020
No primeiro turno, 61% dos prefeitos
que se candidataram conseguiram um cargo: 2.037 para prefeito e 4 para
vereador. Ao todo, 53% dos vereadores que concorreram venceram: 23.444 se
reelegeram, 1.356 viraram vice-prefeitos e 472, prefeitos.
Por Felipe Grandin, G1
22/11/2020 08h06 Atualizado há 3 dias
Mais da metade dos prefeitos, vice-prefeitos e
vereadores conseguiu se eleger para um novo cargo em 2020. Dos 54.504
candidatos que venceram na última eleição municipal, em 2016, 54% ganharam mais
uma vez neste ano.
No primeiro turno, 61% dos prefeitos
eleitos ganharam outro mandato. Dos 3.324 que se candidataram, 2.037 mantiveram
o cargo. E outros 4 se elegeram vereadores.
Entre os vice-prefeitos, o índice de
sucesso foi menor, de 55%. Dos 3.400 que tentaram, 1.870 venceram a eleição.
Desses, 1.177 se reelegeram, 446 se tornaram prefeitos e 247 viraram
vereadores.
Eleitos em 2016 que
conseguiram um novo mandato em 2020 — Foto: Elcio Horiuchi/G1
Segundo o cientista político Emerson
Cervi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o índice de reeleição dos
prefeitos está voltando aos patamares históricos após ter uma forte queda em 2016.
Naquele ano, apenas 46,8% dos prefeitos que tentaram conseguiram um novo mandato.
"O ponto fora da curva foi 2016,
pós-impeachment da presidente Dilma Rousseff e em um momento de muita crítica à
elite política do país", afirma. "Entre 50% e 60% é o padrão
histórico."
Eleitos por cargo —
Foto: Elcio Horiuchi/G1
Vereadores
têm menos sucesso
Mais de 80% dos vereadores
eleitos em 2016 foram candidatos neste ano. No entanto, eles
tiveram uma taxa de sucesso menor que a dos prefeitos.
Entre os vereadores, a taxa de
sucesso eleitoral foi de 53% em 2020. Ao todo, 47.490 vereadores eleitos em
2016 se candidataram novamente. Desse total, 23.444 se reelegeram, 1.356
viraram vice-prefeitos e 472, prefeitos.
Nova
função
Dos que conseguiram um novo mandato,
87,5% mantiveram o cargo e 12,5% trocaram de função.
A condição do Vice e da Prefeita:
Seguindo a
pauta da matéria do G1, o Vereador Dachaga, popularizado como o Vaqueiro, compõe
desde 2013 o grupo de legisladores de Ilha Grande, estabeleceu em 2016 um
recorde de votos, 440 (mesmo, Henrique, o vereador mais bem votado de 2020, não
alcançou este resultado). Dachaga , atual Presidente da Câmara, efetivou o que
o vereador Doutor tentou em 2012, quando concorreu ao cargo de Vice, na chapa
de Doutor Hélio que ficou em segundo lugar, enquanto elegia a esposa. Isso
garante um fato inédito na política da cidade.
Os
Vice-prefeitos ilhagrandenses retraem politicamente e somem, diminuem ou se
afastam dos movimentos políticos: José Osmar, José Gilson, Magno Brito, Batista
da Colônia, Raimundinha do Paulo Rogério e o então Vice Edmar, que a partir de
2021, após 12 anos ativo na composição política de Ilha Grande, irá manifestar
suas ações sem estar no exercício de um mandato.
Dos nove
vereadores eleitos, cinco irão compor a Mesa Diretora da Câmara, ocupando os
seguintes cargos: Presidente, Vice-presidente, Tesoureiro, Primeiro Secretario
e Segundo Secretário. Na grande maioria das vezes há, como no senário nacional,
a afinidade do chefe do executivo com o chefe do legislativo, este sendo o
Presidente da Câmara e o outro, o Prefeito. Tudo depende dos vereadores eleitos
e seus partidos, em 2016 por exemplo, de cara a coligação PMDB/PR fez sete
vereadores (Dachaga, Henrique, Marquinhos, Doutor, Arady, Frank e Cristiane),
porém em 2020 a balança pende com pratos de pesos iguais dos dois lados e o elo
que mantém o equilíbrio é o Vereador Frank, que literalmente é o quinto
elemento, a decisão dele dirá se a Câmara terá maioria oposição ou situação.
Está condição só se tornou possível pelo fato de ter 3 candidatos ao Executivo e
os três terem feito pelo menos uma legenda.
Marina Brito
na campanha anterior disputou como única candidata em oposição a reeleição de
Herbert Silva. Desta vez, aproveitando o esfacelamento do grupo após a
reeleição do Deputado Doutor Hélio em 2018 e cativando, principalmente a base
aliada de Herbert em 2016 para sua própria base em 2020, foi feliz e conseguiu
a vitória. Isso mantém, como apontado em textos anteriores, a incapacidade de
transferir o poder após findar a possibilidade de reeleição dos prefeitos de Ilha Grande.
Porém, nem todas as condições anteriores apontam para o sucesso.
Henrique
Sertão foi prefeito por dois mandatos, falhou na transferência de governo,
Paulo Rogério assumiu e perdeu na tentativa de reeleição para um membro da
família de Sertão. Há uma grande possibilidade de na próxima campanha ouvirmos o
sobrenome Silva entre os candidatos, deixando essa sombra da condição de Paulo,
sobre a próxima governante.
A nova
prefeita deverá evitar os erros que aconteceram na gestão 2005/2008. Paulo
errou principalmente em três pontos, a saber: 1) rompeu com e perseguiu, ainda
no início do governo, o grupo aliado; 2) atrasou prestamentos de conta; 3) deixou
de pagar as despensas das instalações públicas. No entanto, de todos os erros
do gestor, um, o mais simples de perceber, porém o mais difícil de se lidar, corrompeu
toda a conjuntura. Este fator é condição existente em todos os governos e foi
tema trabalhado no 23º capítulo de um dos livros políticos mais lidos, O Príncipe.
O autor Nicolau Maquiavel, descreve, analisa e dá sugestões de como resolver o
mais insalubre problema que Marina deverá enfrentar.
CAPÍTULO XXIII: COMO SE AFASTAM
OS ADULADORES (QUOMODO ADULATORES SINT FUGIENDI)
Não quero deixar de tratar de um
ponto importante, de um erro do qual os príncipes só com muita dificuldade se
defendem, se não são de extrema prudência ou se não fazem boa escolha.
Refiro-me aos aduladores, dos quais as cortes estão repletas, dado que os
homens se comprazem tanto nas suas coisas próprias e de tal modo se iludem, que
com dificuldade se defendem desta peste e, querendo defender-se, há o perigo de
tornar-se menosprezado.
Não há outro meio de guardar-se da adulação, a
não ser fazendo com que os homens entendam que não te ofendem dizendo a
verdade; mas, quando todos podem dizer-te a verdade, passam a faltar-te com a
reverência. Portanto, um príncipe prudente deve proceder por uma terceira
maneira, escolhendo em seu Estado homens sábios e somente a eles deve dar a
liberdade de falar-lhe a verdade daquilo que ele pergunte e nada mais. Deve
consultá-los sobre todos os assuntos e ouvir as suas opiniões; depois, de
liberar por si, a seu modo, e, com estes conselhos e com cada um deles,
portar-se de forma que todos compreendam que quanto mais livremente falarem,
tanto mais facilmente serão aceitas suas opiniões. Fora aqueles, não querer
ouvir ninguém, seguir a deliberação adotada e ser obstinado nas suas decisões.
Quem procede por outra forma, ou é precipitado pelos aduladores, ou muda frequentemente
de opinião pela variedade dos pareceres; daí resulta a sua desestima.
Um príncipe, portanto, deve aconselhar-se
sempre, mas quando ele queira e não quando os outros desejem; antes, deve reprimir
a todos o desejo de aconselhar-lhe alguma coisa sem que ele venha a pedir. Mas
deve ser grande perguntador e, depois, acerca das coisas perguntadas, paciente
ouvinte da verdade; antes, notando que alguém por algum respeito não lhe diga a
verdade, deve mostrar aborrecimento.
Há muitos que entendem que o príncipe que dá
de si opinião de prudente, seja assim considerado não pela sua natureza, mas
pelos bons conselhos que o rodeiam, porém, sem dúvida alguma, estão enganados,
eis que esta é uma regra geral que nunca falha: um príncipe que não seja sábio
por si mesmo, não pode ser bem aconselhado, a menos que por acaso confiasse em
um só que de todo o governasse e fosse homem de extrema prudência. Este caso
poderia bem acontecer, mas duraria pouco, porque aquele que efetivamente
governasse, em pouco tempo lhe tomaria o Estado; mas, aconselhando-se com mais
de um, um príncipe que não seja sábio, não terá nunca os conselhos uniformes e
não saberá por si mesmo harmonizá-los. Cada conselheiro pensará por si e ele
não saberá corrigi-los nem inteirar-se do assunto. E não é possível encontrar
conselheiros diferentes, porque os homens sempre serão maus se por uma
necessidade não forem tornados bons. Consequentemente se conclui que os bons
conselhos, venham de onde vierem, devem nascer da prudência do príncipe, e não
a prudência do príncipe resultar dos bons conselhos.
Em todo o caso, mesmo Maquiavel, lido por figuras famosíssimas
da história como Napoleão, não conseguiu prever um mal advindo do anterior: As
páginas de Facebook Fakes (falsas).
Em 2018, durante a campanha para a Presidência, o então candidato
Jair Bolsonaro foi alvo de um suposto atentado. Ferido à faca, deu continuidade
à sua campanha focando principalmente nas redes sociais. Grupos de whatsapp,
grupos de facebook, páginas e mais páginas. A onda de conteúdo falso, incitações
e agressões não começou em 2018, mas de lá pra cá a evolução foi tamanha que
tais mecanismos infestam as redes sociais de cidades que viram a revolução tecnológica
acontecer nos últimos 5 anos.
A maioria dos Fakes tem poucos amigos, são recém criados, quase não tem fotos do suposto dono, quando tem a única é a do perfil. Fazem críticas/comentários sobre os gestores e populares. Muitas pessoas, acredito eu, sem saber da falsidade, acabam compactuando ou se opondo às bravatas. São agressivos, autoritários, parecem aos mesmo tempo proteger e atiçar o povo. Não possuem escrúpulos e nem limites. Respondem com xingamentos e ameaças. Marcam principalmente pessoas do meio político e público de Ilha Grande (em alguns casos estes são seus próprios alvos). Interagem entre si, se respondem e se comunicam.
Cito Nietzsche novamente.
O que é
bom? Tudo o que aumenta o sentimento de poder, a vontade de poder, o próprio
poder no homem.
O que é
mau? Tudo o que brota da fraqueza.
O que é
felicidade? O sentimento de que o poder aumenta – de que a resistência é
superada.
Então estes, que pretendem defender seu direitos como
contribuintes dos grupos, criando desafetos e irritando os populares, caem em
vício; onde a vontade de poder é tão grande e incompatível com as capacidades, que
refletem a natureza fraca do indivíduo. O que deveria ser bom, transforma-se em mau. Espero que, o quanto antes, sejam tomada
as providências, antes que as escolhas e falas de um, sejam representação das ações
de todos.
Ilha Grande – PI, 27 de novembro de 2020