quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

DIA DOS EVANGÉLICOS NA CIDADE DE ILHA GRANDE – PI

 



 

FORMAÇÃO DA ASSEMBLEIA DE DEUS EM ILHA GRANDE


Diante da difusão do protestantismo no mundo, diversas denominações se estabeleceram no Brasil, a exemplo da congregação cristã no Brasil, Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Evangélica Pentecostal o Brasil para Cristo e dentre outras a Assembleia de Deus, tendo como fundadores os missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren que chegaram ao Brasil no ano de 1910, especificamente em Belém do Pará, tendo como seus primeiros fieis membros de uma igreja batista.

No ano de 1950 a cidade de Ilha grande presenciou a realização do primeiro culto evangélico, dirigido pelo diácono da igreja Presbiteriana Francisco Matos da Cidade de Parnaíba, o culto foi realizado na frente da moradia do senhor Luiz Galeno. Aquela nova forma de culto religioso, diferenciado do catolicismo romano, religião predominante até então, causou revolta nos moradores daquele pequeno povoado, tendo que suportar a rejeição que por diversas vezes chegava a culminar em apedrejamento, porem “...eles não desistiram, porque sabiam que o Senhor estava com eles, e em meio aquelas pedras Deus levantaria uma grande obra neste lugar”. Sabe-se que a religião, por meio de seus elementos constitutivos, pode gerar outros elementos que podem despertar esperança nas mudanças sociais e a construção de uma nova ordem como ressalta Silva e Cereda (2010, p. 90):

[...] a visão mais atual procura ajudar a comunidade em uma forma mais integradora para que a mesma tenha condições de assumir o seu próprio desenvolvimento, desenvolvimento que tem como centro a pessoa humana [...]

           

Dando continuidade ao processo de evangelização, em 1966 os moradores Luiz Galeno e Francisco Justos do nascimento converteram-se ao novo credo religioso, realizando assim a primeira Escola Dominical (marco inicial da instalação do ministério da Assembleia de Deus no povoado de Morros da Mariana) por meio da cooperação dos diáconos Francisco Barbosa, Antônio Bezerra e Zacarias Cardoso. No mesmo ano a igreja foi fundada oficialmente no dia 05 de outubro, tendo como presidente o senhor José Pereira Neto autorizado pelo pastor da Sede da Assembleia de Deus em Parnaíba. Com isso o trabalho de evangelização prosperou, principalmente com a chegada do casal Francisco Fontinelle e Maria Fontinelle, trazendo uma nova forma de pregação baseada no batismo com o Espirito Santo. Diante desta nova forma de anunciar, divulgar e converter novos fieis, Cassiane Galeno foi a primeira mulher a crer na mensagem do evangelho, aderindo a esta religião no dia 20 de dezembro do mesmo ano, abraçando de tal forma a nova religião que a fez ceder sua residência para funcionar como primeiro ponto de pregação.

Com o passar do tempo, a residência de Cassiane tornou-se pequena para comportar os novos fieis, sendo necessário a construção de um salão que também tornou-se pequeno para a quantidade de congregados. Até que a moradora Conceição Santiago decidiu doar um terreno de sua propriedade para construir o templo da Assembleia de Deus, autorizado pelo senhor Job Napoleão Pessoa (Pastor da Assembleia de Deus em Parnaíba) sendo o responsável pelo lançamento da pedra fundamental (ato simbólico de início da construção dos templos) no dia 05 de outubro de 1976, contando com a presença marcante de vários fiéis da igreja de Parnaíba. Em seguida a imagem mostra a senhora Conceição Santiago, doadora do terreno para a construção do novo templo em Ilha Grande.

                            




pioneira da Assembleia de Deus 

Fonte: Blog graus180[1]

 

Mesmo com a atitude de Conceição Santiago, não foi fácil construir o templo, como ressalta Nascimento (2017, s.p):

 

Com muita dificuldade e esforço juntamente com o irmão José Pereira Neto foi construído o templo para a glória de Deus. Depois da construção, o irmão José Pereira Neto teve necessidade de voltar a congregar definitivamente em Parnaíba no ano de 1980, deixando na direção do trabalho o irmão Das Chagas Santos (popular Neguinho) que ficou por um período de 06 anos, sendo substituído pelo pastor Expedito Davi, que assumiu a igreja na época como evangelista em 01 de janeiro de 1987 com autorização do pastor João Bispo, que na época pastoreava a Assembleia de Deus em Parnaíba.

 

Como percebe-se na citação anterior, há uma mudança constante de dirigentes por determinações e convenções hierárquicas características da Assembleia de Deus, com isso o Evangelista Expedito Davi, em sua administração construiu a primeira casa pastoral localizada na Rua da Glória próximo ao Templo da Assembleia de Deus, sendo concluído sua construção em 11 de agosto de 1988.

Com o decorrer do tempo e o aumento da quantidade de fieis no município, fez-se necessário a construção de um templo que atendesse a demanda, foi então que Oséias Lima Fontes (pastor da época) decidiu em concordância com os membros da igreja, por meio de votação e registro em ata datada de 21 de maio de 2005, pela venda do antigo prédio para a prefeitura municipal com o objetivo de adquirir um novo espaço para a construção de um templo e de uma casa pastoral que atendesse as necessidades dos usuários. Sendo assim, a igreja foi construía somando esforços coletivos dos membros da igreja que doavam fundos financeiros e mão de obra, visto que o dinheiro da venda do antigo templo foi insuficiente para a conclusão, que veio a ser inaugurada no dia 09 de julho de 2011 sob a administração de Orlanilson da Silva Castro, contando com a presença do Presidente das Assembleias de Deus no estado do Piauí – Nestor Henrique Mesquita. Já a casa pastoral foi sendo reformada aos poucos ao longo do tempo. Quanto a esta atitude CALDEIRA, 2008. Aborda que “...por meio do trabalho, ajuda mutua, responsabilidade e solidariedade contribuindo para o fortalecimento do desenvolvimento local.

As imagens abaixo mostram dois pastores de grande contribuição na igreja Assembleia de Deus em Ilha Grande, Oseias Lima Fontes foi o responsável pelo inicio da construção do novo templo, e na gestão de Orlanilson da Silva Castro foi inaugurado.

 




              Oséias Lima Fontes                                       Orlanilson da Silva Castro


 

                   Fonte: Blog 180 graus[2]                                      

 

Diante da expansão do ministério da Assembleia de Deus dentro da cidade de Ilha Grande, pela forma de administração dos dirigentes anteriores que foram conquistando fiéis nos bairros do município, com isso surge a necessidade de reformas e construções de novos templos que foi acentuada na Administração de Carlos Augusto Santos Costa (Pastor no período de 13 de outubro de 2011 a 31 de dezembro de 2017) prestando relevantes trabalhos nas construções dos tempos dos bairros Cal e Labino e reformando os prédios dos bairros Tatus e Barro Vermelho. Também em sua gestão organizou o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) da Assembleia de Deus em Ilha Grande, bem como intensificou o trabalho de evangelização durante os seus seis anos de administração pastoral. Segundo SILVA and CEREDA (2011, p.91) em seu artigo contribuição da religião para o desenvolvimento local “historicamente a missão da igreja tem sua missão condicionada a força carismática de seus pastores”.

Na busca de atingir novas metas dentro do trabalho de evangelismo, Carlos Augusto Santos Costa com uma visão diferenciada e aberta a novos desafios, em consonância com as propostas apresentadas a ele e a igreja por Késia Mesquita, uma das divulgadoras da Compassion no estado do Piauí, onde a mesma em um momento de culto religioso apresentou as metas e objetivos de um projeto que atenderia inicialmente crianças e adolescentes de 03 a 14 anos de cunho sócio emocional, espiritual, física e cognitiva. Em concordância com o pensamento de Martins (2005) o desenvolvimento local se dá através da participação e esta participação envolve primordialmente compromisso, não meramente a presença, mas o envolvimento dos atores com os problemas e a busca de soluções, com o sentimento de pertença, vivendo no meio do povo, se identificando com suas lutas e necessidades e com esses buscar caminhos alternativos de inserção na sociedade. Abraçando a proposta do projeto e com o desejo de proporcionar às crianças e adolescentes do município um trabalho que vai além da religiosidade, mas também que aliado a isso poderia proporcionar a oportunidade de trabalhar o ser humano em sua integridade, com vista a oportunizar aos participantes do projeto, uma visão de futuro que vai além da sua realidade social. Com esse propósito, o projeto teve início no ano de 2013 com o título de “Projeto Social Herança do Senhor”. Na imagem logo abaixo temos o pastor Carlos Augusto Santos Costa juntamente com sua esposa Joseila Santos Costa.


 Carlos Augusto Santos Costa e sua esposa Joseila Santos Costa

Fonte: Arquivo Pessoal


 

 

A PROMULGAÇÃO DA LEI MUNICIPAL 



  
Passeata em alusão ao dia do evangélico

 

A igreja Evangélica Assembleia de Deus tem grande importância na criação do dia dos Evangélicos da cidade de Ilha Grande, pois foi sentindo a necessidade de representatividade que, no ano de 2012, a referida igreja chega nas eleições contendo dois candidatos para disputar vagas no legislativo municipal, na tentativa de que os anseios do povo evangélico fossem reconhecidos e respeitados pelas autoridades do poder executivo e legislativo, assim como os demais munícipes.

Na oportunidade lançaram-se como candidatos o jovem Paulo da Silva Araujo (Paulinho Barata) pelo Partido Trabalhista Cristão - PTC e a senhora Maria de Fatima de Oliveira Almeida (Fatima Manteiga) pelo Partido Social Democrático - PSD. Ao findar as eleições Paulinho obteve 85 votos e a Senhora Fatima conseguindo ser eleita com 179 votos, o que marcava ali um feito histórico para a Igreja Evangélica Assembleia de Deus, pela primeira vez viera a conseguir eleger uma representante para a Câmara Municipal.

Carlos Augusto dos Santos Costa era o Pastor presidente da Assembleia de Deus na oportunidade e um dos principais incentivadores da ideia da criação do Dia dos Evangélicos, sendo responsável inclusive em ajudar na preparação da minuta do Projeto de Lei.

Assim sendo, dia 01 de julho de 2015 passou a vigorar a Lei de criação do Dia dos Evangélicos, com o objetivo de registrar no calendário dos eventos anuais, e nas importantes datas comemorativas do Município de Ilha Grande, ficou instituído o Dia dos Evangélicos no dia 27 de janeiro de cada ano. Sem dúvidas foi uma conquista de todos aqueles que se intitulam evangélicos, independente de denominação.

Depois da consolidação da data, todos os anos no dia 27 de janeiro as Igrejas se unem para glorificar a Deus por esse dia, mesmo diante das muitas dificuldades a data nunca deixou de ser comemorada pelas Igrejas que sempre buscam recursos para que a cada ano o evento seja melhorado e valorizado.

 O dia dos Evangélicos representa sim uma conquista, mas é importante ressaltar que ainda é muito pouco diante de todo o reconhecimento que esta classe merece, por seus relevantes trabalhos prestados a sociedade, tanto em trabalhos sociais, educacionais e de reinserção de pessoas no meio social que antes eram desprezadas pela situação em que viviam. Assim os poderes que constituem a cidade de Ilha Grande precisam rever seus olhares para esse povo que, independente de qualquer coisa, são Ilhagrandenses detentores de direitos e deveres. Portanto o estado religioso de um indivíduo em hipótese alguma pode exclui-lo de ser beneficiado por uma política pública.

           

“EBENÉZER! - Até aqui nos ajudou o Senhor!” 1 Samuel 7:12 


Lei Municipal do  dia do evangélico
Autoria: Maria de Fatima de Oliveira Almeida
Presidente: Henrique do Nascimento Bittencourt

Silas Silva Sales, Historiador ilhagrandense, INTA-FID.

  Ilha Grande – PI, 27 de janeiro de 2021.

Carta Ilhagrandense.

Dos autores ao povo.

Feliz Dia do Evangélico. 


 REFERÊNCIAS

CASTILHO, M. A.; BERNARDI, C. J. A religiosidade como elemento do desenvolvimento humano. Interações Revista Internacional de Desenvolvimento Local, v. 17, p. 745-756, 2016.

COMPASSION. História da Compaixão Internacional. Disponível em https://www.com.child-development/meaning-of-compassion/. Acesso em 30/05/2019

ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Tradução Rogério Fernandes. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008 b.

Histórico da Assembleia de Deus de Ilha Grande. Disponível em:https://180graus.com/ilha-grande/historico-da-assembleia-de-deus-de-ilha-grande-508011. Acesso em: 21/04/2019

MATOS, Alderi Souza de. História da Reforma Protestante. Disponível em: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2014/10/historia-da-reforma-protestante/ Acesso em: 10/04/2019

MATOS, Alderi Souza de. História do protestantismo no Brasil. Disponível em: https://maniadehistoria.com/historia-do-protestantismo-no-brasil/. Acesso em 10/04/2019

NASCIMENTO, Josué Pessoa. Histórico da Igreja evangélica Assembleia de Deus. Disponível em: https://www.jornaldailhagrande.com.br/2017/07/ciquentenario-assembleia-de-deus-em.html. Acesso em: 22/04/2019

SILVA FILHO, José Osmar da. Emancipação política do município de Ilha Grande-PI: no contexto da redemocratização do Brasil a partir da constituição de 1988. Parnaíba: Universidade Estadual do Piauí, 2014.

SILVA, E.M. da; CEREDA, Marney Pascoli. Contribuição da religião para com o desenvolvimento local: o caso da organização "Dando as mãos". Interações (UCDB), v. 12, p. 89-99, 2011.

SOUSA, Rainer Gonçalves. A Reforma Religiosa. Disponível em: https://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/a-reforma-religiosa.htm . Acesso em 10/04/2019.

 


sábado, 9 de janeiro de 2021

A INFLUÊNCIA DOS COSTUMES INDÍGENAS NOS POVOS RIBEIRINHOS DE ILHA GRANDE

 

Machadinha de pedra - sítio sobre duna



 SENHORES DO LITORAL: UMA HISTÓRIA CONTADA ATRAVÉS DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS SOBRE DUNAS. (ILHA GRANDE-PI)

 

O Piauí é um dos estados do Nordeste brasileiro que possui uma planície litorânea situada no norte do estado. Segundo o IBGE no censo de 2006 sua população era de 315.114 habitantes, e divide-se em 14 cidades, possuindo uma área total de 9.658,107km², dos estados litorâneos é o que possui o menor litoral do Brasil com apenas 66 km.

A planície litorânea piauiense é composta pelos seguintes municípios: Bom Principio, Buriti dos Lopes, Cajueiro da Praia, Caraúbas do Piauí, Caxingó, Cocal, Cocal dos Alves, Ilha Grande, Luís Correia, Murici dos Portelas, Parnaíba, Piracuruca, São João da Fronteira e São João do Divino.

Dentro da planície litorânea, nas cidades citadas a cima encontram-se vários sítios arqueológicos, onde a pesquisa cientifica passou a ser feita a partir dos anos 90, como afirmam os pesquisadores Abrahão Sanderson Nunes Fernandes da Silva e Herbert Rogério do Nascimento Coutinho no artigo intitulado de: Entre fatores ambientais e culturais: arqueologia no litoral do Piauí desde os anos 1990, na revista Especiaria Cadernos de Ciências Humanas, eles dizem que:

 

As pesquisas arqueológicas no litoral setentrional nordestino são recentes, isto se comparadas às pesquisas arqueológicas desenvolvidas no sul e sudeste brasileiro. O litoral piauiense teve, a partir da segunda metade da década de 1990, as primeiras pesquisas de cunho arqueológico. Dessa maneira, a literatura arqueológica sobre ocupações litorâneas no Piauí é ainda incipiente no tocante aos resultados das pesquisas realizadas e a relação, por exemplo, com os elementos do ambiente litorâneo (SILVA E COUTINHO, p. 15-37).

 

            Sítios Arqueológicos sobre dunas do litoral Piauiense: uma breve história.

 

O litoral piauiense foi habitado pelos índios que levam o nome de Tremembé, muito antes dos colonizadores portugueses chegarem ao Brasil, os vestígios arqueológicos encontrados deixados por eles são testemunhas de que eles passaram e viveram na região, Jóina Freitas Borges ressalta que:

 

Os vestígios arqueológicos espalhados ao longo do litoral confirmam a existência de diversos conglomerados humanos. Na documentação histórica, o Padre Antônio Vieira (1904, p. 101-102) dá uma amostra dessa divisão, quando fala da viagem por terra que fizeram os padres Antônio Ribeiro e Pedro Pedroso, do Maranhão à Serra da Ibiapaba, no ano de 1656. Nos treze primeiros dias do percurso ficaram sem mantimentos e só se sustentaram porque passaram por dois “magotes” (núcleos populacionais) dos “Teremembés”, que lhes forneceram peixes e caranguejos (BORGES, 2006, p. 107).

 

A pesquisadora Jóina Borges nos apresenta em sua tese de doutorado o Sítio seu Bode que fica na praia de Macapá no município de Luiz Correia, lugar onde viviam seus ocupantes, os índios Tremembés pois, é um ambiente rico em recursos naturais, onde se encontrava facilmente o peixe tanto no mar como em lagoa, e os mariscos no manguezal.

 

                             Figura 01: Vista Panorâmica do Sitio seu Bode . Fonte: (BORGES, 2002).

Os sítios arqueológicos sobre dunas levam esse nome por estarem em meios as dunas, que por sua vez estão em constante movimento por causa dos ventos fortes que atingem a região, principalmente no período do verão. O sítio Seu Bode tem fortes marcas da presença humana cuja sua característica são os restos alimentares a base de molusco como também os fragmentos cerâmicos sobre a região. (BORGES, 2006).

Boa parte da alimentação dos ocupantes que ali habitavam era a base de molusco, pois, era de fácil acesso, uma vez que eles os encontravam nas rochas, nos troncos dos manguezais, lagos e na areia da praia. A pesquisadora Jóina Borges (2010), acredita que, com base em suas pesquisas, os tremembés ocuparam essa faixa litorânea por sua vasta riqueza em alimentos:

Na região onde se encontra o sítio, há uma grande riqueza de recursos hídricos, como rios, riachos, lagoas e áreas de inundação, que propiciam a formação de ecossistemas variados. Dessa forma, as populações indígenas, que habitavam o lugar, faziam uso dos recursos faunísticos advindos do mar, além daqueles provenientes das lagoas, dos mangues e da vegetação, caracterizada pela caatinga litorânea arbórea e arbustiva, pela restinga, pelos carnaubais e pela mata (BORGES, 2010, P. 44).

No litoral piauiense os sítios arqueológicos sobre dunas são um campo que já existe pesquisas cientificas feitas que comprovam o contato humano nas regiões estudadas. Podemos afirmar também que ainda há muito terreno a ser explorado e pesquisado, pois, existem sítios de difícil acesso e desconhecido, mas que aos poucos estão sendo achados e catalogados para futuras pesquisas.

Percebemos em nossa pesquisa sobre os sítios que, além dos vestígios indígenas encontrados também encontram-se faianças europeias, principalmente portuguesas, que seria do século XVII, vidros e faianças mais recentes, onde se misturavam com os vestígios indígenas (BORGES, 2010). Com isso podemos afirmar que as regiões onde se encontra esses sítios também foi habitado ou servido de passagem para os europeus, sobre esse contado do europeu com os índios, Borges afirma:

 

A Costa Leste-Oeste, durante todo o século XVI, foi região marginal da colonização portuguesa. O impacto dos primeiros contatos conflituosos, a presença de franceses e outros europeus negociando com os indígenas e as dificuldades da navegação, propiciaram maior agenciamento dos nativos que, de aguerridos “canibais”, transformaram-se em negociantes de paus de tinta, escravos e âmbar, principalmente. Desta forma, a sua posição no mundo colonial, ao mesmo tempo que estava no “limite” entre o “selvagem” e o “civilizado”, devido ao comércio realizado com os europeus, também os inseria no centro, ao fazerem parte de um dos circuitos (clandestinos, é certo) da economia mercantil ocidental. (BORGES, 2010, p. 66).

Sabemos que essa região de sítios arqueológicos sobre dunas de acordo com os pesquisadores já citados, foi habitada pelos índios Tremembés em meados dos séculos XVI e XVII, mas não se descarta  a ocupação de outros povos mais recentes, uma vez que vestígios históricos também são encontrados nos mesmos, o arqueólogo  Julimar Quaresma Mendes Junior, pesquisador dos sítios dunares na lagoa do portinho em Parnaíba Piauí, além de ter encontrado vestígios indígenas, encontrou faianças históricas, onde ele diz:

O Sítio arqueológico Dunas I, está localizado entre dunas de aproximadamente 40 metros de comprimento e 20 de largura. Apresenta grandes concentrações de material malacológico, fragmentos cerâmicos diferenciados, polidos na face interna e externa, com engobo branco, de fina espessura (0,5 a 1,2 cm) e cachimbos; além de material histórico, como fragmentos de garrafas de vidro e de louça fina (MENDES JUNIOR, 2012, p.67, 68).

Para Borges (2010) os índios Tremembés já ocupavam essa região muito antes dos colonizadores, ela mostra em sua pesquisa um mapa (Figura 02), produzido em 1629, por João Teixeira de Albernaz, onde traz detalhes de uma parte da costa litorânea onde viviam esses índios, o que correspondia à província dos Taramembés de guerra.

 

Figura 02: Atlas do Maranhão e Grão-Pará I de 1629. Fonte: (Borges, 2010).

 

No litoral piauiense existem vários sítios arqueológicos sobre dunas, alguns já cadastrados outros não, o fato é que todos os que já foram identificados comprovam a presença humana no passado.

Os sítios arqueológicos sobre dunas do litoral piauiense foram sem duvidas um reduto para os primeiros moradores que aqui habitavam encontraram um lugar perfeito para sobreviver, já que ficam situados em verdadeiros paraísos da natureza, lugar de belezas naturais e fonte de vida.

Sítios Arqueológicos sobre dunas em Ilha Grande - PI.

 

Nessa pesquisa denominamos os índios Tremembés de Senhores do litoral pelo fato de terem vivido na costa litorânea, eles dominavam e predominavam na região, darei ênfase nesse momento aos sítios da cidade de Ilha Grande, esses sítios estão registrados no IPHAN ainda como município de Parnaíba, pois quando foram registrados Ilha Grande ainda era território parnaibano.

Existem vários sítios na cidade de Ilha Grande, pórem alguns ainda não estão cadastrados no IPHAN. Nessa pesquisa destacaremos dois sítios denominados de Morro Gemedor e Cana Braba, quando observados esses sítios percebe-se que eles contém o mesmo contexto no sentido paisagístico dos sítios citados no tópico anterior desta pesquisa, porém o que os diferem dos primeiros são as pesquisas acadêmicas que já existem, o que não diminuem a importância dos sítios arqueológicos sobre dunas de Ilha Grande.

O sítio denominado de Morro Gemedor ou Dona Dedé foi encontrado por uma moradora da região por nome de Edeilcy da Silva Veras, também conhecida por dona Dedé. De difícil acesso fica rodeado por dunas móveis, lagos e uma vasta vegetação com destaque para cajueiros, muricis e outras plantas nativas da região, lugar perfeito para a coleta de frutas e a pesca do peixe como gostavam de viver os Tremembés, nesse sítio foi encontrado vestígios indígenas e faianças europeias e moedas do século XIX por essa moradora Edeilcy que se tornou colaboradora de nossa pesquisa sobre o sítio, ela afirma:

 

Um dia meus filhos saíram para caçar, e encontraram nesse morro cachimbo de barro e moedas, depois de alguns dias eu fui lá perto do morro gemedor e avistamos os objetos, lá nós encontramos cachimbos, moedas, pedaços de louças antigas cacos de vidro e outas coisas, pegamos e trouxemos para casa ainda tenho quase tudo guardado (Edeilcy Veras, 2018).

 

Percebemos que o material arqueológico encontrado por dona Edeilcy é semelhante aos encontrados nos sítios já citados anteriormente, uma prova que por aqui os Senhores do Litoral como também os Europeus deixaram suas marcas.

O historiador Danilton Nobrega dos Santos em um artigo denominado de a Importância dos Sítios Arqueológicos da Região do Delta do Parnaíba para o Ensino de História (2012), faz menção do sítio Morro Gemedor em seu relato ele afirma que o mesmo foi encontrado pela moradora da região como também o material arqueológico, onde ele diz que:

 

Na cidade de Ilha Grande no município de Morro da Mariana um local cheio de duvidas sobre indícios de sítio arqueológico com uma quantidade de utensílios domésticos, no Morro do Gemedor no sítio batizado pela pescadora Dona Dedé onde leva o nome, este possui uma característica muito particular, pois há indícios de ocupação indígena e de ocupação cabocla que habitava a região provavelmente no final do século XVIII e inicio do século XIX, pois os materiais sobrepostos, devido o deslocamento das dunas, fato que ocorre constante na região, mostra grande duvidas sobre suas origens, como cacos de porcelana, pratos, vasos, xícaras e outras peças de fabricação inglesa, holandesa e chinesa, vindas de fabricas como a J&G Meakin, e a Petrus Regouta CO. ( DOS SANTOS, 2012, p. 03).

 

Na fala do historiador Danilton dos Santos, notamos que ele diz que a cidade é cheia de dúvidas sobre os indícios arqueológicos, pois há vários materiais de diferentes comunidades no mesmo lugar dando a entender que na região não habitou apenas índios como também outras pessoas que por ali passaram.

     


       Figura 03. Sitio arqueológico sobre dunas na região Morro Gemedor. Fonte: (COSTA, Fabricio, 2018).

 

Na figura 03 avistamos o sítio que fica próximo ao Morro Gemedor, notamos que é um lugar de belezas naturais notável, propício para morada dos índios Tremembés uma vez que existem lagos e uma boa vegetação que eram explorados por eles.

No mesmo sítio foram encontradas moedas brasileiras ainda do período imperial com datações do século XIX, que estão de posse da dona Edeilcy. Danilton dos Santos no seu artigo chama esse sítio de “intrigante”, pela quantidade de material de diferente contexto encontrado onde ele afirma o seguinte:

 O intrigante Sítio da Dona Dedé é um desafio para esta pesquisa, e para o conhecimento de varias áreas, e que permitem começar a escrever uma história, principalmente da transnacionalidade do comercio de Parnaíba. Este comercio já se iniciou com índios Tremembé, no século XVI. Por fim, com nosso trabalho, desejamos socializar e preservar a memória histórica dos vestígios da ocupação humana em torno do território do Delta do Parnaíba (DOS SANTOS, 2012, p.4 e 5.).

Nessa parte do texto citado ele abre uma questão de que a partir do sítio Morro Gemedor, podemos começar pesquisas sobre o comércio de Parnaíba, com participação dos Tremembés e outros moradores posteriormente.

O sitio arqueológico sobre dunas chamado de Cana Braba é registrado no IPHAN com essa nomenclatura, com a seguinte descrição: de que estar a céu aberto, com mateiras cerâmicos e líticos, afirmando que é um sítio pré-colonial, como todos os sítios sobre dunas já citados nessa pesquisa, ele tem as mesmas semelhanças e características contendo os mesmos vestígios arqueológicos, ainda não há pesquisas cientificas sobre esse sítio; o que não quer dizer que ele não exista e que seja menos importante pois, como no registro do IPHAN, diz que ele estar a céu aberto e seus vestígios ficam a vista, espalhados por todo o território que o situa.

Sobre esse sítio enigmático, há relatos orais de pescadores que por ali passam, uma vez que o sítio Cana Braba fica bem próximo do rio Parnaíba. O pescador Antônio Domingos, mais conhecido como Antônio Alcino, relatou sobre o sítio:

 

Quando era pequeno andando e pescando com meu pai nessas regiões, eu via cachimbos, vasos e potes de barros, meu avô disse que essa região morava índios, nas minhas pescarias, andando sobre as dunas, vi pedaços de panelas de barro e machadinhas de pedra perto de uns amontoados de cascas de mariscos, perto de lagoas (ANTONIO DOMINGOS, 2018).

 

No relato oral do pescador Antônio Alcino, chama atenção o fato de ele observar amontoado de cascas de mariscos, uma prova de que ali houve o contato humano e também os vestígios arqueológicos encontrados juntos as conchas de mariscos.

 




Figura 04. Sitio Cana Braba e vestígios arqueológicos. Fonte: (COSTA, Fabricio, 2018).

 

Na imagem da figura 04 mostrando o sítio Cana Braba e alguns dos vestígios achados que estão em posse dos moradores de Ilha Grande, na figura notamos o amontoado de conchas que provavelmente foram deixados pelos nativos como citou o pescador Antônio Alcino.

            Dos Sítios aos Quintais

 

Observamos no primeiro capítulo dessa pesquisa que o litoral do Piauí foi habitado pelos índios Tremembés que deixaram seus vestígios nesses sítios e um desses vestígios são os amontoados de conchas de mariscos, uma evidencia de que esses índios coletavam mariscos para sua alimentação, é nesse momento que existe uma relação das marisqueiras com os sítios.

Em nossas visitas de campo nas casas das marisqueiras, observei que alguns quintais tinham um pequeno monte de conchas dos mariscos que elas retiravam e ali elas depositavam o material, foi nesse momento que percebi que estávamos diante de um gesto que já vem sendo feito desde a estadia dos Tremembés na região, onde eles também depositavam no lugar onde eles habitavam, porém não podemos afirmar que o ato dos índios, em fazer o amontoado de conchas, é o mesmo ato das marisqueiras ao longo dos anos até os dias atuais, pois estamos falando de algo dos séculos XVII e XVIII com anos próximos até os dias atuais.

 

 



Figura 07. Quintais de casas de marisqueiras. Fonte: (COSTA, Fabricio, 2019).

Podemos observar na imagem da figura 07 dois amontoados de conchas de marisco em quintais de casas das marisqueiras, notamos que existe diferenças nas imagens, pois um estar coberto de vegetação com as conchas brancas, tem essa cor por serem mais velhas já estão ali por mais tempo, e a outra com a cor natural de quando saem do rio e estão ali com menos tempo. Os dois amontoados de conchas são semelhantes aos montes encontrados nos sítios. Nos dois quintais que visitei pude perceber que um já havia conchas mais antigas, o que mostra que a prática do depósito de conchas no quintal já vem sendo feito a vários anos, conversando com uma de nossas colaboradoras dona Luiza sobre onde ela descartava as conchas, ela diz:

 

Algumas jogam nos quintais de casa, também colocamos aqui no quintal da associação, temos uma promessa que no futuro podemos ganhar uma maquina para triturar as conchas e fazer adubo para vender e aumentar nossa renda (LUIZA SANTOS, 2018).

 

Na fala de dona Luiza ela afirma que continuam a fazer o depósito das conchas nos seus quintais, porém também ela disse que elas podem ganhar uma máquina trituradora para transformar as conchas em adubo e assim vender para ajudar na renda familiar, por tanto essa prática que já vem sendo feita há alguns séculos desde os povos indígenas até os dias atuais estar ameaçada prestes a ser resinificada.

As marisqueiras da cidade de Ilha Grande, fazem essa prática de depositar os restos dos mariscos em seus quintais, não obedecendo uma regra ou uma tradição, é algo que vem sendo feito aleatoriamente, já que nenhuma das colaboradoras afirmou que era algo de pai para filho, mas quando foi perguntando se elas sabiam da existência desses sítios arqueológicos que continham amontoados de conchas, todas as colaboradoras afirmaram positivamente, que sabiam da existência dos sítios, dona Edina afirmou que:

 

Já vi sim, ali é dos tempos antigos que tinha uns moradores que moravam por ali, e coletavam aqueles mariscos para comer, naquele lugar já foram encontrados objetos que eram dos índios, ate moedas de antigamente já foram encontradas lá, sempre os meninos encontram em cima das dunas, aqueles montes de casca de mariscos já estar com muitos anos que estão ali, passa morro por cima mais eles continuam lá, meus avós contavam que morava índio nessa região (EDINA AMARAL, 2018).

 

É do conhecimento dessas mulheres que os sítios foram deixados ali por povos indígenas, pois assim como elas já relataram que antes, em meados dos anos 60,70 e 80, a coleta do marisco era apenas para consumo das mesmas, elas também afirmam baseado no relato de seus avós que os índios que viveram na região também coletavam o marisco apenas para o consumo assim como elas.

Os objetos indígenas encontrados nos sítios arqueológicos sobre dunas, principalmente em Ilha Grande, são uma prova de que os Tremembés passaram por lá e não apenas passaram, como deixaram suas marcas na vida da população, em especial os pescadores e as marisqueiras, como a técnica da coleta do marisco. Por isso afirmo que sim, há uma relação entre os sítios e as marisqueiras, quando indagada sobre se essa prática da coleta do marisco é herdada dos índios, dona Luiza respondeu:

 

Eu acho que sim, antigamente o pessoal mais velho contava que os índios tiravam marisco na região da cana braba, a noite eles levavam fogo pra clarear e ficavam tirando o marisco, tanto eles como outros moradores que moraram lá depois dos índios, (LUIZA SANTOS,2018).

 

Dona Luiza cita um dos sítios já apresentado no primeiro capítulo dessa pesquisa, vale ressaltar que ela diz que não somente os índios habitaram aquela região como também outros moradores que veio depois dos índios, isso nos mostra o porquê de, também, serem encontrados pelos moradores, objetos como moedas entre outros.

Em visita de campo pela região por nome de Cana Braba, que também é o nome do sítio arqueológico, é fácil encontrar ruínas de casas de antigos moradores, alguns já cobertas por dunas como relata nossa colaboradora. Nessas ruínas também encontramos montículos de conchas nos antigos quintais desses moradores que por ali viveram e que provavelmente também viviam da prática da coleta do marisco, assim como nossas colaboradoras.

 



Figura 08. Sítio arqueológico sobre dunas e um quintal de uma marisqueira  . Fonte: ( COSTA, Fabricio, 2018).

 

Aqui na figura 08 podemos também observar essa relação das marisqueiras com os sítios, é verdade que cada um com sua característica, pois o material do quintal é mais recente e o amontoado de conchas dos sítios estar lá há vários séculos como já afirmamos também no primeiro capitulo do nosso trabalho.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 A pesquisa apresentada buscou relacionar a prática de pesca das marisqueiras da cidade de Ilha Grande – PI, com a prática dos primeiros moradores do litoral piauiense, com base no que foi encontrado nos sítios arqueológicos sobre dunas, dando ênfase nos sítios existentes na cidade citada.

  Foi verificado através dos dados levantados sobre os sítios arqueológicos sobre dunas existentes na costa do nosso litoral que os índios, que receberam a nomenclatura de Tremembés, viveram na região e deixaram varias marcas e saberes, e um desses saberes foi a técnica de pesca do marisco, herdada pelas nossas marisqueiras a qual a pesquisa se refere.

Percebeu-se nesse trabalho o protagonismo das mulheres marisqueiras da cidade de Ilha Grande através dos relatos orais nas falas de nossas colaboradoras, onde o dia a dia é aguerrido com muita luta no rio, mulheres essas queimadas do sol e que não fogem da labuta. Grande parte delas vivem no bairro Tatus localizado em Ilha Grande, pois ali também fica o rio em que elas passam uma parte de suas vidas tirando/catando o marisco.

Foi observado ao decorrer da pesquisa nos quintais das marisqueiras algo semelhante aos sítios arqueológicos sobre dunas, que eram os restos das conchas tiradas por elas, amontoados bem parecidos com os que estão nos sítios em bora sendo menores, foi nesse momento que buscamos relacionar a prática dessas pescadoras/catadoras com os Índios Tremembés.

  Assim, esse breve estudo, possibilitou o acesso ao conhecimento em relação a alguns aspectos sobre a história dos Sítios Arqueológicos sobre Dunas do Piauí e da cidade De Ilha Grande, um vasto campo ainda a ser explorado, como a vida de nossas guerreiras mulheres marisqueiras do bairro Tatus.

Francisco Fabricio Pereira da Costa, Historiador ilhagrandense, INTA-FID.

  Ilha Grande – PI, 09 de janeiro de 2021.

Carta Ilhagrandense.

Dos autores ao povo.

 

 

REFERENCIAS

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Fontes orais (colaboradores)

Antônio Alcino 

 Edeilcy da Silva Veras

Edna Amaral

Luiza Santos