domingo, 6 de setembro de 2020

PADRE PEDRO QUIRITI: Um arquiteto singular.




Padre Pedro Quiriti (Arquivo pessoal) 

 

INSTITUTO CATÓLICO DE ESTUDOS SUPERIORES DO PIAUÍ - ICESPI CURSO DE BACHARELADO EM TEOLOGIA TEOLOGIA DA MISSÃO – ORIENTADOR PROF. DR. HENRIQUE HEGMANN

Estevão Prondi Souza da Silva

 

PE PEDRO QUIRITI: UM ARQUITETO SINGULAR

“Antes mesmo de te modelar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei. E te constituí profeta para as nações” (Jr 1,5). É uma responsabilidade tremenda escrever, mesmo que em poucas linhas a história de um grande pastor que doou sua vida para que muitos outros tivessem livre acesso à vida eterna, concedeu-me ainda a graça do batismo, sinal de fé com a qual os seres humanos respondem ao Evangelho de Cristo, iluminados pela graça do Santo Espírito. Faço-lhes o convite para que atente ao narrar dos fatos e experiencie o acontecer da história não sendo apenas narrador observador que só vê de fora, mas um narrador personagem que participa e dá vida à história.

 

A BIOGRAFIA... E SEUS FEITOS PASTORAIS...

                Pedro Quiriti nasceu na cidade de Pádua, Itália, no dia 17 de abril de 1926 e cinco dias depois, no dia 22 de abril, foi batizado. De família católica, desde cedo aprendera que o serviço ao próximo acontece na vida doada. De tal modo que, dos muitos irmãos, três se consagraram ao Senhor para segui-lo na vida religiosa na Congregação do Beato Tiago Alberione.

Desde cedo Pedro nutriu apreço e responsabilidade pelo sagrado, como coroinha, coordenou o grupo e lá já apresentava sinais de um verdadeiro líder, compromissado e atencioso para com todos.

                Aos 15 anos, Pedro ingressou na Congregação dos Filhos de São Paulo, Paulinos. Desde cedo, desejava tornar-se sacerdote, mas acabou sendo admitido entre os irmãos leigos consagrados, conhecidos como Discípulos do Divino Mestre. No entanto, após anos de atividades na tipografia e livraria da congregação, Pedro teve um sinal, conheceu Don Folci, fundador da Associação dos Padres “Divino Prisioneiro”, e olhando para o seu interior sentia que ser irmão leigo era pouco para um coração que pretendia ser todo dedicado ao serviço do Reino. Depois de quase 20 anos, resolveu deixar a congregação.

Em 1957, após tomar uma firme decisão, talvez a mais difícil até o dado momento, iniciou os estudos filosóficos rumo ao tão sonhado sacerdócio. E quatro anos depois, em 1961, deu início os estudos teológicos.

Após os estudos no seminário da Arquidiocese de Fermo, Pedro foi ordenado presbítero da Igreja para assim ser no mundo sinal do Cristo cabeça e pastor de seu povo, no dia 27 de março de1965, na Basílica de São Pedro, pela oração e imposição das mãos de Dom Noberto Perini, então Arcebispo de Fermo.

Por conseguinte, após sua ordenação, assumiu como vice pároco da Paróquia de Santo Estefano em Roma, depois sacristão da Basílica de São Pedro. Em, 1968, assumiu a Paróquia de São Simão e Judas em Valle Colorina.

 No entanto, em seu íntimo palpitava um doar-se um pouco mais. Após 10 anos de sacerdócio, resolve lançar-se às águas mais profundas e decide vim ao Brasil como missionário procurando servir aos mais pobres e indefesos.

Chega então ao Brasil em 07 de outubro de 1974, deixando tudo para trás, em busca de uma doação completa pelo Reino. Sendo muito bem acolhido nas Terras de Santa Cruz, sua primeira missão foi assumir a Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes em Itapegica, Guarulhos – SP. Logo despertou em Pe. Pedro um arquiteto, reformou e deu dignidade litúrgica à Igreja paroquial daquela cidade.

 Em fevereiro de 1980, Pe. Pedro tomou posse em sua nova paróquia, Santa Cruz em Moji das Cruzes – SP. Lá também desempenhou seus trabalhos pastorais junto aos mais pobres, reformou a matriz e suas respectivas capelas, sem contar o atendimento espiritual, este era o seu diferencial.

Desejando arriscar-se um pouco mais, Pe. Pedro decide atender ao povo religioso do Piauí, na época, o estado mais carente do país. E no dia 19 de dezembro de 1981, chega ao litoral do estado, Parnaíba.

No ano seguinte, após conhecer um pouco da realidade local, tomou posse como vigário para Paróquia Catedral Mãe da Divina Graça e teve como primeira atividade reformar a Igreja 3 Catedral, a Igreja do Rosário, a casa paroquial, o salão paroquial e ainda construiu uma sala de catequese, a fim de que as crianças tivessem um local reservado e acolhedor.

 Em 1985, com a criação da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição em Ilha Grande – PI, com o decreto de Dom Edvaldo Gonçalves (já eleito como arcebispo de Alagoas) datado de 29 de novembro de 1985 e confirmado pelo decreto nº01/86 pelo então bispo da Diocese Parnaíba, Dom Joaquim Rufino do Rêgo, tomou posse como primeiro pároco.

Não restam dúvidas de que Pe. Pedro é um excelente arquiteto, sabe desenhar desde o bom caminho para que o cristão encontre-se verdadeiramente com Deus ao desenhar uma simples capela e executar sua construção. Seu trabalho constituiu em organizar as comunidades e animá-las espiritualmente. Construiu casas, salões, adquiriu barcos, instrumentos de pesca e perfuração de poços para os moradores da região. Reformou a Igreja, construiu um salão ao lado, construiu/reformou todas as capelas das comunidades existentes, um asilo para idosos, uma farmácia caseira, uma sede para a rádio comunitária e uma casa de nutrição na maior comunidade da paróquia (Santa Isabel).

 

DOS GRANDES FEITOS, UM SANTUÁRIO...

O belíssimo Santuário a Nossa Senhora Mãe dos Pobres e Senhora do Piauí é uma resposta ao pedido de Nossa Senhora a Marieta Becó no ano de 1933, em Banneux, na Bélgica. Nossa Senhora apareceu à jovem moça pela primeira vez no dia 15 de janeiro de 1933 e estas aparições se sucederam até 02 de março. Em todas às vezes elas tiveram um maravilhoso diálogo e o pedido que sempre se repetia era:

“Eu sou a Mãe dos Pobres, quero uma casa de oração nesse vilarejo. Prometo interceder por todos, porque acredito em vocês e vocês acreditam em mim”. E mais pediu que na casa de oração fosse construída uma fonte de água e disse: “Esta fonte é reservada à mim, às nações, aos doentes, para alívio de todos” (OLIVEIRA, p. 155, 2018).

O santuário de Nossa Senhora foi erguido em um morro por trás da Igreja Matriz, de modo que, das janelas do presbitério se avista a linda imagem. É uma bela e exultante expressão de fé e amor a Nossa Senhora que sempre nos mostra o Pai.

A ideia da construção do santuário surgiu da grande devoção do povo ilhagrandense à Jovem Mãe de Jesus e do convite de São João Paulo II, naquela época sumo pontífice. Por ocasião do segundo milênio do nascimento de Nossa Senhora, o papa dedicou os anos de 4 1987 – 1988 como ano mariano. Um belo convite à aproximação com Nossa Senhora que nos educa que devemos escutar o que o mestre nos ensina.

Contam os mais velhos que Pe. Pedro manifestou seu desejo de construir um santuário a um jovem amigo italiano e este de imediato prometeu ajudá-lo. Não demorou muito e o povo foi presenteado com uma imagem de Nossa Senhora Mãe dos Pobres com 4 metros de altura, com 300 quilos modelada em resina e mármore. A imagem chegou em 04 de janeiro de 1989. Foi recebida na Igreja Catedral, onde ficou exposta por três dias para veneração. Foi então no dia 07 de janeiro, em uma procissão com muito mais de 5.000 mil devotos que a imagem foi levada ao povoado Morros da Mariana. Segundo Dona Fátima, (2018): “foi um momento lindo, único. Lembro que rezamos, cantamos, e quando chegamos na Igreja Matriz participamos de uma celebração campal com a presença do nosso bispo do coração”

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 Enquanto o santuário ganhava os retoques finais, a imagem ainda ficou uma semana na Igreja Matriz onde foram realizados momentos marianos, oração do santo terço, oração do santo ofício. Depois de muito preparo, chegou o grande dia, era 15 de janeiro, quando se comemorava os 56 anos da aparição de Nossa Senhora à jovem. A imagem foi levada e colocada no seu devido lugar para veneração. Foi abençoada pelo bispo diocesano Dom Joaquim Rufino do Rêgo, celebração que contou com os fiéis de toda a paróquia.

 O santuário possui peças de argila que nos transmitem os principais acontecimentos da Igreja, as capelas da paróquia, os mistérios do santo terço, entre outras imagens. As imagens foram produzidas por um escultor local, Charles. O santuário tem ainda uma escadaria com 33 degraus que representam os anos de vida de Jesus e no percurso colunas com quadros da viasacra que vieram junto com a imagem da Itália. E uma fonte com água benta atendendo ao pedido da virgem que disse que aqueles que dela beberem receberão as graças que tanto necessitam.

 

DOS MUITOS RELATOS, ALGUNS SOBRE A CHEGADA DA IMAGEM DA MÃE DOS POBRES...

imagem atravessando a ponte Simplícios Dias

“Meu filho, foi uma experiência linda. Nos reunimos na Igreja pra pegarmos o ônibus para chegar até a Catedral e de lá sair em caminhada. Tinha muita gente... de Parnaíba... da nossa Ilha... de outras cidades... só sei que eu tentava olhar para trás e não enxergava o final da procissão. Pra ter noção, o que as primeiras pessoas rezavam, nós que estávamos mais atrás não ouvíamos. Rezamos o terço, cantamos, foi lindo...lindo” (Graça Cunha, 2018).

 “Assim que a imagem chegou em Parnaíba eu fui lá fazer as minhas orações. Lembro que tinha muita gente, chamou muito a atenção daqueles que por ali passavam, uma imagem grande, bonita que convidava à oração. Eu não lembro de ter participado da caminhada, não sei porque (risadas). Lembro bem que algumas pessoas que não tinham tanto convívio na Igreja reclamavam e se perguntavam o porquê da vinda dessa imagem. O fato é que coisas estranhas aconteceram com essas pessoas e foram associadas à um castigo pelos questionamentos feitos à imagem de Nossa Senhora” (Ionete Alves, 2018).

 “Ah eu participei da procissão de Nossa Senhora. Foi uma procissão muito bonita, tinha muita gente... muito carro... lembro que Pe. Pedro fez um livro e lá ele disse que participaram mais ou menos umas cinco mil pessoas. No percurso nós cantamos... rezamos... foi lindo... Agora eu não lembro da chegada na matriz, devia estar muito cansada (risadas altas). Agora lembro do dia que subimos o morro para colocá-la no lugar onde deveria permanecer. Foi outro momento lindo, com muitas orações e santa missa” (Neide Santos, 2018).

 “Ôh eu não lembro muito bem da caminhada, mas lembro que meu marido ajudou a levar a imagem da Igreja Matriz até o santuário e depois ajudou a colocar ela nicho que estava preparado” (Francisca Cunha, 2018).

“Participei sim. Tinha tanta gente, nós chegamos anoite na matriz. Lembro que a imagem foi colocada no carro, e o povo vinha caminhando atrás. Cantamos, rezamos, oferecemos a nossa Senhora os nossos corações, foi lindo. Lembro que as senhoras de mais idade vinham segurando no carro para ajudar a caminha mais rápido (risadas). Lembro bem que quando chegamos teve um grande show de fogos de artificio em comemoração à chegada da imagem. Eu não vi bem quando colocaram a imagem no nicho, pela quantidade de pessoas, mas depois tive a oportunidade de ver e contemplar” (Conceição de Maria, 2018).

 

E A HISTÓRIA CONTINUA...

Dando continuidade a esta história. Após 18 anos no Piauí, Pe. Pedro mais vez se aventura e a convite de Dom Edvaldo, arcebispo de Alagoas, chega à terra dos Marechais. Em 13 de fevereiro de 1999, tomou posse na Paróquia Virgem dos Pobres, tornando-se o primeiro pároco daquele lugar.

Depois de ter conhecido a comunidade paroquial formou o conselho pastoral e administrativo. Em seguida, iniciou a reforma da Igreja matriz que era apenas um galpão. Pouco a pouco, foi dando corpo físico à paróquia, construiu a casa paroquial, reformou as capelas das comunidades.

 Promoveu ainda muitos projetos caritativos, entre eles: “o Projeto para que todos tenham vida”. Trabalhou junto à Irmã Lucia e Irmã Magali, em um trabalho social de nutrição, educação e formação cristã das crianças sofridas das periferias da paróquia.

 

NO ÂMBITO PASTORAL...

Três pontos importantes se encontram em todas as Igrejas por ele construídas ou reformadas. O primeiro deles é Jesus na Eucaristia, porque somente Ele é tudo em todos. O segundo é o crucifixo, que nos lembra como nosso Deus não poupou a vida de seu Filho Unigênito para nos salvar. O terceiro é o ambão, a sagrada escritura na qual encontramos o caminho que devemos percorrer a verdade que devemos professar e a vida que devemos viver.

 Também, em todas elas se encontra a presença materna de Maria Mãe do nosso Deus e Senhor Jesus Cristo e Mãe da humanidade. Eis aí tua mãe. Com ela nós meditamos, rezamos e suplicamos à Santíssima Trindade para a unidade e santidade da Igreja povo de Deus.

Não nos restam dúvidas de que sua teologia pastoral se baseia no sair de si e ir ao encontro dos mais pobres, seguindo o que nos diz Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10). Tal metodologia consiste em acolher, formar e enviar como ensina o próprio mestre. Foram muitas as suas obras caritativas, nestas ele pode acolher, formar e os deixou com o conhecimento da verdade que é a vida em Cristo Jesus.

 

 

POR FIM...

 “Pois o zelo por tua casa me devora” (Sl 69, 10). Verdadeiramente Pe. Pedro é um homem totalmente entregue à Igreja, ao amor a Deus e ao próximo. Em suas orações sempre recorreu à providência divina, a fim de que, sempre o ajudasse em seus propósitos para com seu povo. Brincava dizendo: “onde peguei todo esse dinheiro para fazer essas obras humanitárias, que não são minhas, mas de Deus”. Já com seus 94 anos de vida, não se cansa de trabalhar, sempre disposto a atender espiritualmente a todos que o procure. Eis um testemunho profético de nosso tempo.

ESTAVÃO PRONDI SOUZA DA SILVA, Ilhagrandense, Licenciado em Filosofia pelo Instituto Católico de Estudos Superiores do Piauí - ICESPI e bacharelando em Teologia pelo mesmo instituto.


Ilha Grande - PI, 06 de setembro de 2020
Carta Ilhagrandense.

Dos Autores.
Ao povo.
Em homenagem aos grandes feitos de Padre Pedro.
Em agradecimento ao olhar paterno para Ilha Grande.


Um comentário:

  1. Batizado em 22 de abril
    Seu destino era o Brasil
    Liderança: a humanidade nunca precisou tanto...

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