domingo, 9 de agosto de 2020

MEIA NOITE NO BECO DA PERNINHA: Um causo do centro da cidade.

 

Quem nunca levou uma carreira de uma alma penada?

Vamos imaginar que as assombrações e mitos da Ilha se dividem em duas categorias: I) as assombrações errantes que andam sem destino e vivem a vaguear, como Lobisomens por exemplo; II) as assombrações fixas, que não se movem; habitando um ponto especifico como uma casa abandonada ou não, um cemitério ou becos e vielas escuras. 

Semana passada aqui no blog, tínhamos um exemplo de uma assombração errante; a Mulher Chorona vagueia e há relatos de aparições por toda a cidade, mas ela mais comum nas antigas áreas rurais como: Tatus, Cal, Baixão, Labino e Urubu. Assim também temos inúmeros relatos de Lobisomens em todos os cantos.


As assombrações fixas, procuram pontos estratégicos como, já citei: casas abandonadas e cemitérios. Creio eu não precisar de fontes para argumentar que, a urbanização e as assombrações estão ligadas por uma proporcionalidade inversa; quero dizer: quanto mais urbanizada é uma cidade, menos assombrações terá. O medo com certeza está ligado ao escuro, à dúvida. Dificilmente teremos relatos de lobisomens em um local iluminado e movimentado dia e noite, já nos interiores ele sairá toda lua cheia. Lendas urbanas como a Loira do Banheiro e o Mostro do Armário são uma especie de, como o próprio nome já sugere, consequência da urbanização. Sacis e Curupiras não se fazem comuns na mitologia atual, mas não me espantaria se ao conversar com pessoas mais velhas e/ou de locais mais periféricos, topasse com relatos dessas criaturas nos cajueirais da Cana Brava e Cutia por exemplo.

Sendo assim, veremos aos poucos e com o passar das gerações, nossos mitos se modificarem e perderem-se, pois ficarão retidos na imaginação de um grupo que viveu na época em que a história era contada. Para que fiquem registrados alguns desses contos, o Carta Ilhagrandense, através do nosso apoiador e colaborador Fabricio Costa, traz hoje A Lenda do Beco da Perninha; uma assombração fixa que, durante 3 décadas, assombrou uma viela que liga a Rua da Gloria e a Av. Martins Ribeiro, maltratando seus transeuntes após a meia noite.

 

A LENDA DO BECO DA PERNINHA

A lenda do beco da perninha é mais uma de varias lendas que existem no imaginário do povo Ilhagrandense, especificamente em uma parte da Rua da Gloria e outra parte da Avenida Martins Ribeiro. Antes de começar a falar da lenda é preciso saber onde fica localizado o Beco da Perninha.

A seta aponta para o Beco da Perninha, na parte superior a Avenida Martins Ribeiro e na parte inferior da seta a Rua da Gloria


O beco que, assim é chamado na cidade de Ilha Grande, é uma pequena via que liga a Rua da Gloria com a Avenida Martins Ribeiro, para muitos também chamado de Beco da Dona Chica Moreira, fica em frente a sede da Associação dos Moradores dos Morros da Mariana. Não se sabe ao certo em que ano a lenda começou a ser contada, porém os relatos começam no final da década de 80 ganhando força nos anos 90 e enfraquecendo em 2000.

O beco, visto da Rua da Gloria para Av. Martins Ribeiro.

O beco, visto da Av. Martins Ribeiro para Rua da Gloria.

A lenda é relatada da seguinte maneira: depois da meia noite, quando alguém passava no beco e chegava na metade do caminho, ouvia-se uns ruídos de galhos quebrando, em seguida algo, um vulto que se parecia com uma perna, aproximava-se e aplicava chutes ou uma rasteira na pessoa que corria levando chutes até o final do caminho. Saindo do Beco da Perninha a perseguição parava.

Muitos relataram ter sido vitimas da Perninha, assim as pessoas: crianças, jovens e adultos evitavam passar no Beco da Perninha até mesmo antes da meia noite; era comum os moradores dar uma volta no quarteirão buscando outros caminhos para não passar pelo beco. A história foi sendo repassada até no começo dos anos 2000, a partir disso ela foi sendo enfraquecida com a urbanização da cidade, o beco que era mais estreito ficou mais largo, a areia deu lugar às pedras de calçamento, os matos foram cortados, o beco ficou iluminado e casas foram construídas. Assim, com o passar do tempo, as pessoas foram perdendo o medo; já que antes o famoso beco era escuro e com matos, e hoje é até bem movimentado.

A Lenda do Beco da Perninha ainda hoje é lembrada nas rodas de conversas dos que vivenciaram o auge da mesma, são as crianças e jovens da época. Hoje com seus 30 à 40 anos, já não causa tanto medo. Como foi dito no começo, essa lenda é mais conhecida em uma parte dos   moradores da Rua da Gloria e Martins Ribeiro.

Francisco Fabricio Pereira da Costa, funcionário público, ilhagrandense, licenciado em história, INTA-FID.


Muitas histórias assim estão guardadas na imaginação popular, conte com a gente para contar a sua. Deixe nos comentários os locais assombrados da cidade que você conhece. 


  Ilha Grande – PI, 09 de agosto de 2020.

Carta Ilhagrandense.

Dos autores ao povo, em especial aos pais.


 

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