Quem nunca levou uma carreira de uma alma penada?
Vamos imaginar
que as assombrações e mitos da Ilha se dividem em duas categorias: I) as assombrações
errantes que andam sem destino e vivem a vaguear, como Lobisomens por exemplo;
II) as assombrações fixas, que não se movem; habitando um ponto especifico como
uma casa abandonada ou não, um cemitério ou becos e vielas escuras.
Semana passada
aqui no blog, tínhamos um exemplo de uma assombração errante; a Mulher Chorona
vagueia e há relatos de aparições por toda a cidade, mas ela mais comum nas
antigas áreas rurais como: Tatus, Cal, Baixão, Labino e Urubu. Assim também
temos inúmeros relatos de Lobisomens em todos os cantos.
As assombrações
fixas, procuram pontos estratégicos como, já citei: casas abandonadas e cemitérios.
Creio eu não precisar de fontes para argumentar que, a urbanização e as assombrações
estão ligadas por uma proporcionalidade inversa; quero dizer: quanto mais
urbanizada é uma cidade, menos assombrações terá. O medo com certeza está
ligado ao escuro, à dúvida. Dificilmente teremos relatos de lobisomens em um
local iluminado e movimentado dia e noite, já nos interiores ele sairá toda lua
cheia.
Sendo assim,
veremos aos poucos e com o passar das gerações, nossos mitos se modificarem e
perderem-se, pois ficarão retidos na imaginação de um grupo que viveu na época em
que a história era contada. Para que fiquem registrados alguns desses contos, o
Carta Ilhagrandense, através do nosso apoiador e colaborador Fabricio Costa,
traz hoje A Lenda do Beco da Perninha; uma assombração fixa que, durante 3 décadas,
assombrou uma viela que liga a Rua da Gloria e a Av. Martins Ribeiro,
maltratando seus transeuntes após a meia noite.
A LENDA DO BECO DA PERNINHA
A lenda do beco da perninha é mais uma de varias lendas que existem no imaginário do povo Ilhagrandense, especificamente em uma parte da Rua da Gloria e outra parte da Avenida Martins Ribeiro. Antes de começar a falar da lenda é preciso saber onde fica localizado o Beco da Perninha.
A seta aponta para o Beco da Perninha, na parte superior a Avenida Martins Ribeiro e na parte inferior da seta a Rua da Gloria.
O beco que, assim é chamado na cidade
de Ilha Grande, é uma pequena via que liga a Rua da Gloria com a Avenida
Martins Ribeiro, para muitos também chamado de Beco da Dona Chica Moreira,
fica em frente a sede da Associação dos Moradores dos Morros da Mariana. Não se
sabe ao certo em que ano a lenda começou a ser contada, porém os relatos começam
no final da década de 80 ganhando força nos anos 90 e enfraquecendo em 2000.
A lenda
é relatada da seguinte maneira: depois da meia noite, quando alguém passava no
beco e chegava na metade do caminho, ouvia-se uns ruídos de galhos quebrando,
em seguida algo, um vulto que se parecia com uma perna, aproximava-se e
aplicava chutes ou uma rasteira na pessoa que corria levando chutes até o final
do caminho. Saindo do Beco da Perninha a perseguição parava.
Muitos
relataram ter sido vitimas da Perninha, assim as pessoas: crianças, jovens e
adultos evitavam passar no Beco da Perninha até mesmo antes da meia noite; era
comum os moradores dar uma volta no quarteirão buscando outros caminhos para
não passar pelo beco. A história foi sendo repassada até no começo dos anos
2000, a partir disso ela foi sendo enfraquecida com a urbanização da cidade, o
beco que era mais estreito ficou mais largo, a areia deu lugar às pedras de
calçamento, os matos foram cortados, o beco ficou iluminado e casas foram
construídas. Assim, com o passar do tempo, as pessoas foram perdendo o medo; já
que antes o famoso beco era escuro e com matos, e hoje é até bem movimentado.
A Lenda do Beco da Perninha ainda hoje é lembrada nas rodas de conversas dos que
vivenciaram o auge da mesma, são as crianças e jovens da época. Hoje com seus
30 à 40 anos, já não causa tanto medo. Como foi dito no começo, essa lenda é
mais conhecida em uma parte dos
moradores da Rua da Gloria e Martins Ribeiro.
Francisco Fabricio Pereira da Costa, funcionário público, ilhagrandense, licenciado em história, INTA-FID.
Muitas histórias assim estão guardadas na imaginação popular, conte com a gente para contar a sua. Deixe nos comentários os locais assombrados da cidade que você conhece.
Ilha Grande – PI, 09 de agosto de 2020.
Carta Ilhagrandense.
Dos autores ao povo, em especial aos pais.
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