Um novo significado
“Seu moço, eu venho de longe, não sei onde vou
chegar, não tenho medo de seguir, mas tenho medo de voltar. Acreditar no que
acreditei e trabalhar pra quem trabalhei. Amar, amar quem eu já amei”. (Libório
e João do Vale)
Esse
ano é um São João diferente, cada um na sua casa tentando que viver esse
momento da forma que pode, mas dá saudade né? De ir aos arraias de rua,
acompanhar folguedos na praça, quem diria que algo assim faria tanta falta!
Mas
vamos falar um pouco de tradição e cultura? Hoje a gente vai pensar um pouco
sobre os grupos juninos, as nossas famosas quadrilha!
Desde
criança a gente espera esse período pra colocar nossa roupa caipira, procurar
um par e se divertir, seja na escola ou nos arraias de rua do nosso bairro, hoje
na nossa Ilha temos grupos maravilhosos, que se preparam o ano todo para esse momento,
com ensaios, busca de recursos para encher nossos olhos durante esses dias, vamos
usar como exemplos os grupos juninos Coração Junino nos Morros da Mariana,
Mandacaru no Labino e Estrela Junina da Pedra do sal, aqui faremos referência a todos os grupo. .
Você
já parou pra pensar que dançar quadrilha não é somente uma manifestação da
cultura brasileira? Essa ação está repleta de aspectos rituais tradicionais,
bem como posicionamentos religiosos e políticos. Existe uma continuidade da
tradição articulada pelos sujeitos que fazem essa festa, recriando a cada
década performances na cultura junina.
Falando
um pouco da origem, a quadrilha originou-se na Inglaterra, no século XIII.
Posteriormente, ela foi incorporada e adaptada à cultura francesa e se
desenvolveu nas danças de salão a partir do século XVIII. Assim, a quadrilha se
tornou popular entre os membros da nobreza europeia. Com sua disseminação na
Europa, a quadrilha chegou a Portugal. A partir do século XIX, a dança se
popularizou no Brasil mediante influência da corte portuguesa, sendo muito bem
recebida pela nobreza no Rio de Janeiro, então sede da Corte. Embora fosse uma
dança dos meios aristocráticos, mais tarde a quadrilha conquistou o povo e
adquiriu um significado novo e mais popular.
Não
podemos deixar de pautar que as festas juninas ganharam no Brasil uma
ressignificação religiosa, dada pela forte identidade com o catolicismo a
partir de cultos em devoção aos santos João, Antônio e Pedro. Esta festa foi tradicionalmente
inserida no calendário popular como festa religiosa, porém apesar do apelo
religioso, essa festa popular alcançou as ruas, vinculando-se às quermesses e
procissões, distanciando-se gradativamente dos rituais católicos e chegando a
outros espaços sociais.
Hoje
podemos dizer que vivemos a tradição de duas maneiras, tem aqueles que apreciam
a dança junina matuta, aquela que remete a quadrilha tradicional, que nos lembra
muito os arraias de rua, que valoriza a cultura do “caipira raiz”.
Do
outro lado estão os grupos modernos, que concorrem em concursos, e todos os
anos trazem como objetivo a superação do quesito inovação, roupas luxuosas,
coreografias complexas, evolução de temas e composições própria; elementos
diferenciados, uma arte de encher os olhos, o que nos leva ao questionamento:
será que estão matando a cultura da quadrilha junina?
É
importante lembrar sempre, que as tradições são repassadas pela oralidade, e as
culturas vão se resinificando em todos os aspectos. Sobre a cultura: tudo aquilo
que produzido por ela é dinâmico, assim não é de se espantar, que a chita tão
presente no período junino, dê lugar a tecidos mais finos, bordados em
pedrarias. Vinculando a tradição ao tempo e à memória, assim como às
modificações culturais que a sociedade sofre a cada período histórico,
constatamos que o contexto histórico-temporal dos grupos juninos é construído
pela vida em sociedade; não há exemplo mais evidente do que digo que, estarmos assistindo
lives de festas juninas; isso é a cultura seguindo a natureza da sua dinâmica.
Stuart
Hall teórico cultural e sociólogo diz: “a
luta cultural assume diversas formas: incorporação, distorção, resistência,
negociação, recuperação”; assim, proponho que é necessário observar essas
transformações nas quadrilhas juninas como resultados de um processo histórico.
Não
podemos deixar de ressaltar que esses grupos, que ocupam posições de destaque
no meio junino e que conquistam diversos títulos nos concursos, geralmente são
grupos mais estruturados e com maior tempo de fundação, enquanto os grupos
populares tentam manter a tradição, os grupos de elite afirmam novas concepções
sobre os modelos tradicionais dessa modalidade junina.
Esse
momento pandêmico nos leva a refletir o quanto a tradição esta enraizada em
nós, e no quanto cultura e arte se fazem necessárias na nossa vida, e aqui eu
afirmo que aqueles que não valorizam a arte e a cultura atiram pedras em si
mesmos.
Finalizo
esse texto com um trecho da musica da Banda Mastruz com leite, que é reflexo
das mudanças desse São João 2020.
Alavantu pra tu,
Anarriê pra eu
Tu no teu canto e dançando aqui no meu
Vontade voa, e a
saudade cria asa
Vai ter São João, mas cada qual na sua casa
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