quinta-feira, 25 de junho de 2020

Arraiás

Um novo significado

Mandacaru - Labino


 “Seu moço, eu venho de longe, não sei onde vou chegar, não tenho medo de seguir, mas tenho medo de voltar. Acreditar no que acreditei e trabalhar pra quem trabalhei. Amar, amar quem eu já amei”. (Libório e João do Vale)

Esse ano é um São João diferente, cada um na sua casa tentando que viver esse momento da forma que pode, mas dá saudade né? De ir aos arraias de rua, acompanhar folguedos na praça, quem diria que algo assim faria tanta falta!

Mas vamos falar um pouco de tradição e cultura? Hoje a gente vai pensar um pouco sobre os grupos juninos, as nossas famosas quadrilha!

Desde criança a gente espera esse período pra colocar nossa roupa caipira, procurar um par e se divertir, seja na escola ou nos arraias de rua do nosso bairro, hoje na nossa Ilha temos grupos maravilhosos, que se preparam o ano todo para esse momento, com ensaios, busca de recursos para encher nossos olhos durante esses dias, vamos usar como exemplos os grupos juninos Coração Junino nos Morros da Mariana, Mandacaru no Labino e Estrela Junina da Pedra do sal, aqui faremos referência a todos os grupo. .

Você já parou pra pensar que dançar quadrilha não é somente uma manifestação da cultura brasileira? Essa ação está repleta de aspectos rituais tradicionais, bem como posicionamentos religiosos e políticos. Existe uma continuidade da tradição articulada pelos sujeitos que fazem essa festa, recriando a cada década performances na cultura junina. 

Falando um pouco da origem, a quadrilha originou-se na Inglaterra, no século XIII. Posteriormente, ela foi incorporada e adaptada à cultura francesa e se desenvolveu nas danças de salão a partir do século XVIII. Assim, a quadrilha se tornou popular entre os membros da nobreza europeia. Com sua disseminação na Europa, a quadrilha chegou a Portugal. A partir do século XIX, a dança se popularizou no Brasil mediante influência da corte portuguesa, sendo muito bem recebida pela nobreza no Rio de Janeiro, então sede da Corte. Embora fosse uma dança dos meios aristocráticos, mais tarde a quadrilha conquistou o povo e adquiriu um significado novo e mais popular.

 

Não podemos deixar de pautar que as festas juninas ganharam no Brasil uma ressignificação religiosa, dada pela forte identidade com o catolicismo a partir de cultos em devoção aos santos João, Antônio e Pedro. Esta festa foi tradicionalmente inserida no calendário popular como festa religiosa, porém apesar do apelo religioso, essa festa popular alcançou as ruas, vinculando-se às quermesses e procissões, distanciando-se gradativamente dos rituais católicos e chegando a outros espaços sociais.

Hoje podemos dizer que vivemos a tradição de duas maneiras, tem aqueles que apreciam a dança junina matuta, aquela que remete a quadrilha tradicional, que nos lembra muito os arraias de rua, que valoriza a cultura do “caipira raiz”.

Do outro lado estão os grupos modernos, que concorrem em concursos, e todos os anos trazem como objetivo a superação do quesito inovação, roupas luxuosas, coreografias complexas, evolução de temas e composições própria; elementos diferenciados, uma arte de encher os olhos, o que nos leva ao questionamento: será que estão matando a cultura da quadrilha junina?

É importante lembrar sempre, que as tradições são repassadas pela oralidade, e as culturas vão se resinificando em todos os aspectos. Sobre a cultura: tudo aquilo que produzido por ela é dinâmico, assim não é de se espantar, que a chita tão presente no período junino, dê lugar a tecidos mais finos, bordados em pedrarias. Vinculando a tradição ao tempo e à memória, assim como às modificações culturais que a sociedade sofre a cada período histórico, constatamos que o contexto histórico-temporal dos grupos juninos é construído pela vida em sociedade; não há exemplo mais evidente do que digo que, estarmos assistindo lives de festas juninas; isso é a cultura seguindo a natureza da sua dinâmica.

Stuart Hall teórico cultural e sociólogo diz: “a luta cultural assume diversas formas: incorporação, distorção, resistência, negociação, recuperação”; assim, proponho que é necessário observar essas transformações nas quadrilhas juninas como resultados de um processo histórico.

Não podemos deixar de ressaltar que esses grupos, que ocupam posições de destaque no meio junino e que conquistam diversos títulos nos concursos, geralmente são grupos mais estruturados e com maior tempo de fundação, enquanto os grupos populares tentam manter a tradição, os grupos de elite afirmam novas concepções sobre os modelos tradicionais dessa modalidade junina.

Esse momento pandêmico nos leva a refletir o quanto a tradição esta enraizada em nós, e no quanto cultura e arte se fazem necessárias na nossa vida, e aqui eu afirmo que aqueles que não valorizam a arte e a cultura atiram pedras em si mesmos.

Finalizo esse texto com um trecho da musica da Banda Mastruz com leite, que é reflexo das mudanças desse São João 2020.

Alavantu pra tu,

Anarriê pra eu


Tu no teu canto e dançando aqui no meu

Vontade voa, e a saudade cria asa


Vai ter São João, mas cada qual na sua casa


Ilha Grande – PI, 25 de junho de 2020
Carta Ilhagrandense.

Dos Autores ao povo
Obrigado por não terem queimado fogueiras.




Coração Junino 

Estrela Junina

Mandacaru





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