Machadinha de pedra - sítio sobre duna |
SENHORES DO LITORAL: UMA HISTÓRIA CONTADA
ATRAVÉS DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS SOBRE DUNAS. (ILHA GRANDE-PI)
O
Piauí é um dos estados do Nordeste brasileiro que possui uma planície litorânea
situada no norte do estado. Segundo o IBGE no censo de 2006 sua população era
de 315.114 habitantes, e divide-se em 14 cidades, possuindo uma área total de
9.658,107km², dos estados litorâneos é o que possui o menor litoral do Brasil
com apenas 66 km.
A
planície litorânea piauiense é composta pelos seguintes municípios: Bom
Principio, Buriti dos Lopes, Cajueiro da Praia, Caraúbas do Piauí, Caxingó,
Cocal, Cocal dos Alves, Ilha Grande, Luís Correia, Murici dos Portelas,
Parnaíba, Piracuruca, São João da Fronteira e São João do Divino.
Dentro
da planície litorânea, nas cidades citadas a cima encontram-se vários sítios
arqueológicos, onde a pesquisa cientifica passou a ser feita a partir dos anos
90, como afirmam os pesquisadores Abrahão Sanderson Nunes Fernandes da Silva e
Herbert Rogério do Nascimento Coutinho no artigo intitulado de: Entre fatores
ambientais e culturais: arqueologia no litoral do Piauí desde os anos 1990, na
revista Especiaria Cadernos de Ciências Humanas, eles dizem que:
As pesquisas
arqueológicas no litoral setentrional nordestino são recentes, isto se
comparadas às pesquisas arqueológicas desenvolvidas no sul e sudeste
brasileiro. O litoral piauiense teve, a partir da segunda metade da década de
1990, as primeiras pesquisas de cunho arqueológico. Dessa maneira, a literatura
arqueológica sobre ocupações litorâneas no Piauí é ainda incipiente no tocante
aos resultados das pesquisas realizadas e a relação, por exemplo, com os
elementos do ambiente litorâneo (SILVA E COUTINHO, p. 15-37).
Sítios
Arqueológicos sobre dunas do litoral Piauiense: uma breve história.
O
litoral piauiense foi habitado pelos índios que levam o nome de Tremembé, muito
antes dos colonizadores portugueses chegarem ao Brasil, os vestígios
arqueológicos encontrados deixados por eles são testemunhas de que eles
passaram e viveram na região, Jóina Freitas Borges ressalta que:
Os vestígios
arqueológicos espalhados ao longo do litoral confirmam a existência de diversos
conglomerados humanos. Na documentação histórica, o Padre Antônio Vieira (1904,
p. 101-102) dá uma amostra dessa divisão, quando fala da viagem por terra que
fizeram os padres Antônio Ribeiro e Pedro Pedroso, do Maranhão à Serra da
Ibiapaba, no ano de 1656. Nos treze primeiros dias do percurso ficaram sem
mantimentos e só se sustentaram porque passaram por dois “magotes” (núcleos
populacionais) dos “Teremembés”, que lhes forneceram peixes e caranguejos
(BORGES, 2006, p. 107).
A
pesquisadora Jóina Borges nos apresenta em sua tese de doutorado o Sítio seu
Bode que fica na praia de Macapá no município de Luiz Correia, lugar onde
viviam seus ocupantes, os índios Tremembés pois, é um ambiente rico em recursos
naturais, onde se encontrava facilmente o peixe tanto no mar como em lagoa, e
os mariscos no manguezal.
Figura 01: Vista
Panorâmica do Sitio seu Bode . Fonte: (BORGES, 2002).
Os
sítios arqueológicos sobre dunas levam esse nome por estarem em meios as dunas,
que por sua vez estão em constante movimento por causa dos ventos fortes que
atingem a região, principalmente no período do verão. O sítio Seu Bode tem
fortes marcas da presença humana cuja sua característica são os restos
alimentares a base de molusco como também os fragmentos cerâmicos sobre a
região. (BORGES, 2006).
Boa
parte da alimentação dos ocupantes que ali habitavam era a base de molusco,
pois, era de fácil acesso, uma vez que eles os encontravam nas rochas, nos
troncos dos manguezais, lagos e na areia da praia. A pesquisadora Jóina Borges
(2010), acredita que, com base em suas pesquisas, os tremembés ocuparam essa
faixa litorânea por sua vasta riqueza em alimentos:
Na região onde se
encontra o sítio, há uma grande riqueza de recursos hídricos, como rios,
riachos, lagoas e áreas de inundação, que propiciam a formação de ecossistemas
variados. Dessa forma, as populações indígenas, que habitavam o lugar, faziam
uso dos recursos faunísticos advindos do mar, além daqueles provenientes das
lagoas, dos mangues e da vegetação, caracterizada pela caatinga litorânea
arbórea e arbustiva, pela restinga, pelos carnaubais e pela mata (BORGES, 2010,
P. 44).
No
litoral piauiense os sítios arqueológicos sobre dunas são um campo que já
existe pesquisas cientificas feitas que comprovam o contato humano nas regiões
estudadas. Podemos afirmar também que ainda há muito terreno a ser explorado e
pesquisado, pois, existem sítios de difícil acesso e desconhecido, mas que aos
poucos estão sendo achados e catalogados para futuras pesquisas.
Percebemos
em nossa pesquisa sobre os sítios que, além dos vestígios indígenas encontrados
também encontram-se faianças europeias, principalmente portuguesas, que seria
do século XVII, vidros e faianças mais recentes, onde se misturavam com os
vestígios indígenas (BORGES, 2010). Com isso podemos afirmar que as regiões
onde se encontra esses sítios também foi habitado ou servido de passagem para
os europeus, sobre esse contado do europeu com os índios, Borges afirma:
A Costa Leste-Oeste,
durante todo o século XVI, foi região marginal da colonização portuguesa. O
impacto dos primeiros contatos conflituosos, a presença de franceses e outros
europeus negociando com os indígenas e as dificuldades da navegação, propiciaram
maior agenciamento dos nativos que, de aguerridos “canibais”, transformaram-se
em negociantes de paus de tinta, escravos e âmbar, principalmente. Desta forma,
a sua posição no mundo colonial, ao mesmo tempo que estava no “limite” entre o
“selvagem” e o “civilizado”, devido ao comércio realizado com os europeus,
também os inseria no centro, ao fazerem parte de um dos circuitos
(clandestinos, é certo) da economia mercantil ocidental. (BORGES, 2010, p. 66).
Sabemos
que essa região de sítios arqueológicos sobre dunas de acordo com os pesquisadores
já citados, foi habitada pelos índios Tremembés em meados dos séculos XVI e
XVII, mas não se descarta a ocupação de
outros povos mais recentes, uma vez que vestígios históricos também são
encontrados nos mesmos, o arqueólogo
Julimar Quaresma Mendes Junior, pesquisador dos sítios dunares na lagoa
do portinho em Parnaíba Piauí, além de ter encontrado vestígios indígenas,
encontrou faianças históricas, onde ele diz:
O Sítio arqueológico
Dunas I, está localizado entre dunas de aproximadamente 40 metros de
comprimento e 20 de largura. Apresenta grandes concentrações de material
malacológico, fragmentos cerâmicos diferenciados, polidos na face interna e
externa, com engobo branco, de fina espessura (0,5 a 1,2 cm) e cachimbos; além
de material histórico, como fragmentos de garrafas de vidro e de louça fina
(MENDES JUNIOR, 2012, p.67, 68).
Para
Borges (2010) os índios Tremembés já ocupavam essa região muito antes dos
colonizadores, ela mostra em sua pesquisa um mapa (Figura 02), produzido em
1629, por João Teixeira de Albernaz, onde traz detalhes de uma parte da costa
litorânea onde viviam esses índios, o que correspondia à província dos
Taramembés de guerra.
Figura 02: Atlas do
Maranhão e Grão-Pará I de 1629. Fonte: (Borges, 2010).
No
litoral piauiense existem vários sítios arqueológicos sobre dunas, alguns já
cadastrados outros não, o fato é que todos os que já foram identificados comprovam
a presença humana no passado.
Os
sítios arqueológicos sobre dunas do litoral piauiense foram sem duvidas um
reduto para os primeiros moradores que aqui habitavam encontraram um lugar
perfeito para sobreviver, já que ficam situados em verdadeiros paraísos da
natureza, lugar de belezas naturais e fonte de vida.
Sítios
Arqueológicos sobre dunas em Ilha Grande - PI.
Nessa
pesquisa denominamos os índios Tremembés de Senhores do litoral pelo fato de
terem vivido na costa litorânea, eles dominavam e predominavam na região, darei
ênfase nesse momento aos sítios da cidade de Ilha Grande, esses sítios estão
registrados no IPHAN ainda como município de Parnaíba, pois quando foram
registrados Ilha Grande ainda era território parnaibano.
Existem
vários sítios na cidade de Ilha Grande, pórem alguns ainda não estão
cadastrados no IPHAN. Nessa pesquisa destacaremos dois sítios denominados de
Morro Gemedor e Cana Braba, quando observados esses sítios percebe-se que eles
contém o mesmo contexto no sentido paisagístico dos sítios citados no tópico
anterior desta pesquisa, porém o que os diferem dos primeiros são as pesquisas
acadêmicas que já existem, o que não diminuem a importância dos sítios
arqueológicos sobre dunas de Ilha Grande.
O
sítio denominado de Morro Gemedor ou Dona Dedé foi encontrado por uma moradora
da região por nome de Edeilcy da Silva Veras, também conhecida por dona Dedé.
De difícil acesso fica rodeado por dunas móveis, lagos e uma vasta vegetação
com destaque para cajueiros, muricis e outras plantas nativas da região, lugar
perfeito para a coleta de frutas e a pesca do peixe como gostavam de viver os
Tremembés, nesse sítio foi encontrado vestígios indígenas e faianças europeias
e moedas do século XIX por essa moradora Edeilcy que se tornou colaboradora de
nossa pesquisa sobre o sítio, ela afirma:
Um dia meus filhos
saíram para caçar, e encontraram nesse morro cachimbo de barro e moedas, depois
de alguns dias eu fui lá perto do morro gemedor e avistamos os objetos, lá nós
encontramos cachimbos, moedas, pedaços de louças antigas cacos de vidro e outas
coisas, pegamos e trouxemos para casa ainda tenho quase tudo guardado (Edeilcy
Veras, 2018).
Percebemos
que o material arqueológico encontrado por dona Edeilcy é semelhante aos
encontrados nos sítios já citados anteriormente, uma prova que por aqui os
Senhores do Litoral como também os Europeus deixaram suas marcas.
O
historiador Danilton Nobrega dos Santos em um artigo denominado de a
Importância dos Sítios Arqueológicos da Região do Delta do Parnaíba para o
Ensino de História (2012), faz menção do sítio Morro Gemedor em seu relato ele
afirma que o mesmo foi encontrado pela moradora da região como também o
material arqueológico, onde ele diz que:
Na cidade de Ilha
Grande no município de Morro da Mariana um local cheio de duvidas sobre
indícios de sítio arqueológico com uma quantidade de utensílios domésticos, no
Morro do Gemedor no sítio batizado pela pescadora Dona Dedé onde leva o nome,
este possui uma característica muito particular, pois há indícios de ocupação
indígena e de ocupação cabocla que habitava a região provavelmente no final do
século XVIII e inicio do século XIX, pois os materiais sobrepostos, devido o
deslocamento das dunas, fato que ocorre constante na região, mostra grande
duvidas sobre suas origens, como cacos de porcelana, pratos, vasos, xícaras e
outras peças de fabricação inglesa, holandesa e chinesa, vindas de fabricas
como a J&G Meakin, e a Petrus Regouta CO. ( DOS SANTOS, 2012, p. 03).
Na
fala do historiador Danilton dos Santos, notamos que ele diz que a cidade é
cheia de dúvidas sobre os indícios arqueológicos, pois há vários materiais de
diferentes comunidades no mesmo lugar dando a entender que na região não
habitou apenas índios como também outras pessoas que por ali passaram.
Figura 03. Sitio arqueológico sobre
dunas na região Morro Gemedor. Fonte: (COSTA, Fabricio, 2018).
Na
figura 03 avistamos o sítio que fica próximo ao Morro Gemedor, notamos que é um
lugar de belezas naturais notável, propício para morada dos índios Tremembés
uma vez que existem lagos e uma boa vegetação que eram explorados por eles.
No
mesmo sítio foram encontradas moedas brasileiras ainda do período imperial com
datações do século XIX, que estão de posse da dona Edeilcy. Danilton dos Santos
no seu artigo chama esse sítio de “intrigante”, pela quantidade de material de
diferente contexto encontrado onde ele afirma o seguinte:
O intrigante Sítio da Dona Dedé é um desafio
para esta pesquisa, e para o conhecimento de varias áreas, e que permitem
começar a escrever uma história, principalmente da transnacionalidade do
comercio de Parnaíba. Este comercio já se iniciou com índios Tremembé, no
século XVI. Por fim, com nosso trabalho, desejamos socializar e preservar a
memória histórica dos vestígios da ocupação humana em torno do território do
Delta do Parnaíba (DOS SANTOS, 2012, p.4 e 5.).
Nessa
parte do texto citado ele abre uma questão de que a partir do sítio Morro
Gemedor, podemos começar pesquisas sobre o comércio de Parnaíba, com
participação dos Tremembés e outros moradores posteriormente.
O
sitio arqueológico sobre dunas chamado de Cana Braba é registrado no IPHAN com
essa nomenclatura, com a seguinte descrição: de que estar a céu aberto, com
mateiras cerâmicos e líticos, afirmando que é um sítio pré-colonial, como todos
os sítios sobre dunas já citados nessa pesquisa, ele tem as mesmas semelhanças
e características contendo os mesmos vestígios arqueológicos, ainda não há
pesquisas cientificas sobre esse sítio; o que não quer dizer que ele não exista
e que seja menos importante pois, como no registro do IPHAN, diz que ele estar
a céu aberto e seus vestígios ficam a vista, espalhados por todo o território
que o situa.
Sobre
esse sítio enigmático, há relatos orais de pescadores que por ali passam, uma
vez que o sítio Cana Braba fica bem próximo do rio Parnaíba. O pescador Antônio
Domingos, mais conhecido como Antônio Alcino, relatou sobre o sítio:
Quando era pequeno
andando e pescando com meu pai nessas regiões, eu via cachimbos, vasos e potes
de barros, meu avô disse que essa região morava índios, nas minhas pescarias,
andando sobre as dunas, vi pedaços de panelas de barro e machadinhas de pedra
perto de uns amontoados de cascas de mariscos, perto de lagoas (ANTONIO
DOMINGOS, 2018).
No
relato oral do pescador Antônio Alcino, chama atenção o fato de ele observar
amontoado de cascas de mariscos, uma prova de que ali houve o contato humano e
também os vestígios arqueológicos encontrados juntos as conchas de mariscos.
Figura
04. Sitio Cana Braba e vestígios arqueológicos. Fonte: (COSTA, Fabricio, 2018).
Na
imagem da figura 04 mostrando o sítio Cana Braba e alguns dos vestígios achados
que estão em posse dos moradores de Ilha Grande, na figura notamos o amontoado
de conchas que provavelmente foram deixados pelos nativos como citou o pescador
Antônio Alcino.
Dos Sítios aos
Quintais
Observamos
no primeiro capítulo dessa pesquisa que o litoral do Piauí foi habitado pelos
índios Tremembés que deixaram seus vestígios nesses sítios e um desses
vestígios são os amontoados de conchas de mariscos, uma evidencia de que esses
índios coletavam mariscos para sua alimentação, é nesse momento que existe uma relação
das marisqueiras com os sítios.
Em
nossas visitas de campo nas casas das marisqueiras, observei que alguns
quintais tinham um pequeno monte de conchas dos mariscos que elas retiravam e
ali elas depositavam o material, foi nesse momento que percebi que estávamos
diante de um gesto que já vem sendo feito desde a estadia dos Tremembés na
região, onde eles também depositavam no lugar onde eles habitavam, porém não
podemos afirmar que o ato dos índios, em fazer o amontoado de conchas, é o
mesmo ato das marisqueiras ao longo dos anos até os dias atuais, pois estamos
falando de algo dos séculos XVII e XVIII com anos próximos até os dias atuais.
Figura
07. Quintais de casas de marisqueiras. Fonte: (COSTA, Fabricio, 2019).
Podemos
observar na imagem da figura 07 dois amontoados de conchas de marisco em quintais
de casas das marisqueiras, notamos que existe diferenças nas imagens, pois um
estar coberto de vegetação com as conchas brancas, tem essa cor por serem mais
velhas já estão ali por mais tempo, e a outra com a cor natural de quando saem
do rio e estão ali com menos tempo. Os dois amontoados de conchas são
semelhantes aos montes encontrados nos sítios. Nos dois quintais que visitei
pude perceber que um já havia conchas mais antigas, o que mostra que a prática
do depósito de conchas no quintal já vem sendo feito a vários anos, conversando
com uma de nossas colaboradoras dona Luiza sobre onde ela descartava as conchas,
ela diz:
Algumas jogam nos
quintais de casa, também colocamos aqui no quintal da associação, temos uma
promessa que no futuro podemos ganhar uma maquina para triturar as conchas e
fazer adubo para vender e aumentar nossa renda (LUIZA SANTOS, 2018).
Na
fala de dona Luiza ela afirma que continuam a fazer o depósito das conchas nos
seus quintais, porém também ela disse que elas podem ganhar uma máquina
trituradora para transformar as conchas em adubo e assim vender para ajudar na
renda familiar, por tanto essa prática que já vem sendo feita há alguns séculos
desde os povos indígenas até os dias atuais estar ameaçada prestes a ser resinificada.
As
marisqueiras da cidade de Ilha Grande, fazem essa prática de depositar os
restos dos mariscos em seus quintais, não obedecendo uma regra ou uma tradição,
é algo que vem sendo feito aleatoriamente, já que nenhuma das colaboradoras
afirmou que era algo de pai para filho, mas quando foi perguntando se elas
sabiam da existência desses sítios arqueológicos que continham amontoados de
conchas, todas as colaboradoras afirmaram positivamente, que sabiam da
existência dos sítios, dona Edina afirmou que:
Já vi sim, ali é dos
tempos antigos que tinha uns moradores que moravam por ali, e coletavam aqueles
mariscos para comer, naquele lugar já foram encontrados objetos que eram dos
índios, ate moedas de antigamente já foram encontradas lá, sempre os meninos
encontram em cima das dunas, aqueles montes de casca de mariscos já estar com
muitos anos que estão ali, passa morro por cima mais eles continuam lá, meus
avós contavam que morava índio nessa região (EDINA AMARAL, 2018).
É
do conhecimento dessas mulheres que os sítios foram deixados ali por povos
indígenas, pois assim como elas já relataram que antes, em meados dos anos
60,70 e 80, a coleta do marisco era apenas para consumo das mesmas, elas também
afirmam baseado no relato de seus avós que os índios que viveram na região
também coletavam o marisco apenas para o consumo assim como elas.
Os
objetos indígenas encontrados nos sítios arqueológicos sobre dunas,
principalmente em Ilha Grande, são uma prova de que os Tremembés passaram por
lá e não apenas passaram, como deixaram suas marcas na vida da população, em
especial os pescadores e as marisqueiras, como a técnica da coleta do marisco.
Por isso afirmo que sim, há uma relação entre os sítios e as marisqueiras,
quando indagada sobre se essa prática da coleta do marisco é herdada dos índios,
dona Luiza respondeu:
Eu acho que sim,
antigamente o pessoal mais velho contava que os índios tiravam marisco na
região da cana braba, a noite eles levavam fogo pra clarear e ficavam tirando o
marisco, tanto eles como outros moradores que moraram lá depois dos índios, (LUIZA
SANTOS,2018).
Dona
Luiza cita um dos sítios já apresentado no primeiro capítulo dessa pesquisa,
vale ressaltar que ela diz que não somente os índios habitaram aquela região
como também outros moradores que veio depois dos índios, isso nos mostra o porquê
de, também, serem encontrados pelos moradores, objetos como moedas entre
outros.
Em
visita de campo pela região por nome de Cana Braba, que também é o nome do
sítio arqueológico, é fácil encontrar ruínas de casas de antigos moradores,
alguns já cobertas por dunas como relata nossa colaboradora. Nessas ruínas
também encontramos montículos de conchas nos antigos quintais desses moradores
que por ali viveram e que provavelmente também viviam da prática da coleta do
marisco, assim como nossas colaboradoras.
Figura 08. Sítio arqueológico sobre dunas e um quintal de uma marisqueira . Fonte: ( COSTA, Fabricio, 2018).
Aqui
na figura 08 podemos também observar essa relação das marisqueiras com os
sítios, é verdade que cada um com sua característica, pois o material do
quintal é mais recente e o amontoado de conchas dos sítios estar lá há vários
séculos como já afirmamos também no primeiro capitulo do nosso trabalho.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A pesquisa apresentada buscou relacionar a
prática de pesca das marisqueiras da cidade de Ilha Grande – PI, com a prática
dos primeiros moradores do litoral piauiense, com base no que foi encontrado
nos sítios arqueológicos sobre dunas, dando ênfase nos sítios existentes na
cidade citada.
Foi verificado através dos dados levantados
sobre os sítios arqueológicos sobre dunas existentes na costa do nosso litoral
que os índios, que receberam a nomenclatura de Tremembés, viveram na região e
deixaram varias marcas e saberes, e um desses saberes foi a técnica de pesca do
marisco, herdada pelas nossas marisqueiras a qual a pesquisa se refere.
Percebeu-se nesse
trabalho o protagonismo das mulheres marisqueiras da cidade de Ilha Grande
através dos relatos orais nas falas de nossas colaboradoras, onde o dia a dia é
aguerrido com muita luta no rio, mulheres essas queimadas do sol e que não
fogem da labuta. Grande parte delas vivem no bairro Tatus localizado em Ilha
Grande, pois ali também fica o rio em que elas passam uma parte de suas vidas
tirando/catando o marisco.
Foi observado ao
decorrer da pesquisa nos quintais das marisqueiras algo semelhante aos sítios
arqueológicos sobre dunas, que eram os restos das conchas tiradas por elas,
amontoados bem parecidos com os que estão nos sítios em bora sendo menores, foi
nesse momento que buscamos relacionar a prática dessas pescadoras/catadoras com
os Índios Tremembés.
Assim, esse breve estudo, possibilitou o
acesso ao conhecimento em relação a alguns aspectos sobre a história dos Sítios
Arqueológicos sobre Dunas do Piauí e da cidade De Ilha Grande, um vasto campo
ainda a ser explorado, como a vida de nossas guerreiras mulheres marisqueiras
do bairro Tatus.
Francisco Fabricio Pereira da Costa, Historiador ilhagrandense, INTA-FID.
Ilha Grande – PI, 09 de janeiro de 2021.
Carta Ilhagrandense.
Dos autores ao povo.
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Fontes
orais (colaboradores)
Antônio
Alcino
Edeilcy da Silva Veras
Edna
Amaral
Luiza
Santos
Ótima pesquisa!!!
ResponderExcluirExcelente👏👏 !
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