EM QUEM VOCÊ VAI VOTAR ESSE ANO?
Nicolau Maquiavel foi um filósofo, historiador, poeta, diplomata e músico de origem florentina do Renascimento. É reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna, pelo fato de ter escrito sobre o Estado e o governo como realmente são, e não como deveriam ser, a ele cabe a seguinte frase “Os homens são tão pouco argutos, e se inclinam de tal modo às necessidades imediatas, que quem quiser enganá-los encontrará sempre quem se deixe enganar.” A palavra “arguto” quer dizer uma pessoa capaz de perceber rapidamente as coisas sutis. Isso quer dizer que Maquiavel menosprezava o conhecimento dos homens? Não. Maquiavel criticava a ingenuidade do ser humano, que na busca pela sobrevivência, se esforça pelas suas ambições com tanta vontade que não para pra refletir sobre o que os rodeia na maioria das vezes.
Quando Maquiavel escreveu, ele sabia que nem todo mundo acreditaria ou concordaria com sua forma de pensar, mas pelo fato de ser pioneiro ao abordar os assuntos, ficou famoso e serviu de exemplo para muitos autores. O que quero, é escrever a história política em relação ao Poder Executivo de Ilha Grande até este momento, o que de fato não é tão complicado, devido aos personagens serem poucos e pelo fato de ser uma cidade jovem. Além disso, o forte partidarismo dos principais blogs ilhagrandenses e de cidades vizinhas deixa um rastro de notícias que me ajuda a encaixar algumas peças. Sei que vou errar em alguns pontos e acertar em outros e nos dois casos encontrarei pessoas que concordarão e outras que terão versões diferentes dos fatos que vou narrar; é isso que eu quero. Mesmo sabendo que a maioria das pessoas que me criticarão, vão apenas ler a parte que lhe cabe ou que lhe contesta, pulando exatamente o início e perdendo esse ponto, onde quero convidar todos os interessados a participarem da construção dessa história, discutindo os temas colocados aqui, mostrando outros pontos de vista, gerando um confronto que resultará em uma versão, espero eu, mais próxima da verdade. A ideia do Blog Carta Ilhagrandense é justamente essa: juntar uma galera e, registrando seus pontos de vista sobre Ilha Grande, criar um alicerce para a pesquisa das gerações vindouras. Por hora, quero continuar o que comecei em fevereiro.
A proposta é explicar como chegamos no momento político em que Bernadete Leal, Edmar e Marina Brito disputam a vaga do executivo municipal. Porque temos essas opções? Qual foi a trajetória política deles nessa cidade, entende?
Então vou começar com o que encontrei em blogs e o que já temos de entrevistas e textos. Como leitura complementar, para quem quiser me acompanhar, sugiro caso não tenha feito ainda, ler o texto sobre os movimentos políticos que escrevemos em fevereiro deste ano: https://www.blogger.com/u/1/blog/post/edit/8956835553304095116/5066788389810710925 , lá você encontrará um pequeno resumo de como foram as campanhas políticas anteriores. Sugiro, já que contamos com sua disposição para leituras, ler os textos da emancipação e da divisão do território, para que se compreenda o contexto. Aqui focarei principalmente nas duas campanhas anteriores: 2012 e 2016, extraindo destas as informações que usarei posteriormente.
Na minha mente, para entender a condição política de Ilha Grande é
preciso conhecer os eleitores e os movimentos políticos, que são todos os
contratos e acordos firmados e desfeitos entre os principais personagens da politica ilhagrandense, ou pelo menos aqueles que ficaram
registrados e que se tem acesso. Aqui escrevo sobre os eleitores; o segundo tema, dividirem em outros textos. O que vou escrever é mais para organizar meus
pensamentos e deixar mais esse registro, esse outro ponto de vista; um terceiro
olhar.
Quem são os eleitores?
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Tabela de eleitores de Ilha Grande por sexo e grau de instrução.
Nas minhas pesquisas sobre os
eleitores, encontrei os seguintes números segundo TRE (Tribunal Regional Eleitoral), Ilha Grande conta com 8.063 eleitores aptos a votar em 2020, a
grande maioria encontra-se na faixa de idade de 25 a 39 anos. Uma condição importante
para a análise, é em relação ao nível de ensino do eleitorado, sendo que 29,03% (2.341)
não concluíram o ensino fundamental, em comparação a 3,05% (246) que tem ensino
superior completo. Para frisar melhor a condição, é importante ressaltar que o
número de pessoas que declararam ser analfabetas (717) é maior que a soma dos
que declaram ter ensino superior incompleto (198) e ensino superior completo (246).
Por ser formada em sua maioria por agricultores e pescadores, e com o nível de
ensino básico que tínhamos e temos, esse fato, embora seja importantíssimo para
essa discussão, não é surpresa.
Site do Índice de Governança Municipal indicando a distância entre a condição real da educação e vulnerabilidade social de Ilha Grande em comparação com as metas planejadas em Ilha Grande.
https://igm.cfa.org.br/dimensao/MjQxMTg=/Mw==#dimension2_3
Em 2016, quando houve campanha
para prefeito e vereadores pela última vez, Ilha Grande contava com 7412
eleitores, o que expõe um crescimento de cerca de 8,07% daquele ano para 2020;
nada comparado com o salto de quase 100% no número de eleitores entre a
primeira e segunda campanha para esses cargos na cidade, porém se compararmos
com o número de eleitores em 2012 (7331) percebemos que o aumento de 2016 para
2020 foi 8 vezes maior que de 2012 para 2016.
O IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), contou em 2010 o número de habitantes de nossa cidade
e encontrou 8914 pessoas, com isso o instituto estimava que em 2020 teríamos 9457
habitantes, ou seja, da população 5,6 % não são eleitores, com isso apenas 452
habitantes são menores de 16 anos ou não tiraram título de eleitor ainda. Embora
a previsão possa estar errada, devemos guardar essas informações e ter em mente
que além de eleitores residentes em Ilha Grande, devemos contar com no mínimo 1500
eleitores que residem em outra cidade. Em um município que já viu eleições
decididas com 50 votos de diferença, a decisão desses 1500 deve ser colocada no
cálculo, resta saber quais parâmetros essas pessoas usam para decidir o melhor
para a cidade. (veja: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pi/ilha-grande/panorama)
Site do Índice de Governança
Municipal indicando um inchaço no número de servidores, principalmente em
cargos comissionado.
https://igm.cfa.org.br/dimensao/MjQxMTg=/Mg==#dimension2_2
Inato ao homem, existe o sentimento de identidade social, que a gente usa para escolher determinado grupo, separando assim a sociedade em blocos de pessoas, que se acham representadas em times de futebol e partidos políticos por exemplo (leia: https://amenteemaravilhosa.com.br/identidade-social/). A própria definição de partido fala da representatividade da vontade de um grupo, no entanto a vontade individual prevalece sempre diante da vontade coletiva.
Ainda segundo IBGE “em 2018, o salário médio mensal era de 1.8
salários mínimos. A proporção de pessoas ocupadas em relação à população total
era de 5.4%. Na comparação com os outros municípios do estado, ocupava as
posições 83 de 224 e 156 de 224, respectivamente. Já na comparação com cidades
do país todo, ficava na posição 3263 de 5570 e 5107 de 5570, respectivamente.
Considerando domicílios com rendimentos mensais de até meio salário mínimo por
pessoa, tinha 53.1% da população nessas condições, o que o colocava na posição
147 de 224 dentre as cidades do estado e na posição 767 de 5570 dentre as
cidades do Brasil”. A esta condição devemos elencar os fatos de ter mais de uma
década que a cidade não tem concurso público, mesmo tendo apresentado relativo
crescimento; a informalidade dos trabalhadores de Ilha Grande; a grande dependência
de programas sociais e a sazonalidade dos empregos com algum grau de indicação política.
Tudo isso serve de combustível para a formação dos grupos que acompanham cada
candidato.
Podemos observar o cabo de guerra do grupos políticos nos números de participantes de convenções, reuniões, carreatas, passeatas, seguidores etc. isso se dá para convencer os eleitores ainda indecisos de que determinado grupo tem aceitação maior que outro, pois o ser humano tende ao lado aparentemente mais forte, aquele que se sentiria mais favorecido e protegido pela quantidade de integrantes. Mais na frente, quando estiver apresentando os movimentos políticos, você notará que, a médio prazo, o mesmo combustível que serviu para formar os grupos, será responsável por sua ruina; o número de solicitações dos membros de um grupo será incompatível com o que se terá disponível. A expectativa de cada membro será posta em cheque e isso gera uma condição migração dos membros entre os grupos, principalmente dos desfavorecidos; estes desistem de participar, se aliam aos opositores ou tornam-se opositor com seu próprio grupo, e é sobre isso que vou falar nos próximos textos.
Escrito por: JORGE CRUZ DOS SANTOS, ilhagrandense, formado em Matemática pela Universidade Federal do Piauí - Parnaíba, Especialista em Metodologia do Ensino da Matemática - FAERPI.
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