Antigamente as crianças não tinham tantos brinquedos como as de
hoje e, por isso, tinham que usar mais a criatividade para criá-los e para as
brincadeiras. A tecnologia está cada vez
mais tomando o tempo e a infância das crianças, passam a maioria do tempo em
frente à TV, computador ou via redes sociais. E por isso, com esses novos
entretenimentos, as antigas brincadeiras estão cada vez mais esquecidas. Quem
tem mais de 20 anos de idade sabe bem o que é juntar a turma da rua, da escola
para pular amarelinha, jogar pião, queimada, disputar uma partida de peteca ou
mesmo de futebol, esconde-esconde, polícia-ladrão, pular elástico, brincar de Maria
tubana, pega-pega conhecido popularmente por nós como “mancha” e tantas outras
brincadeiras que fizeram parte da formação de tantas gerações.
Aos poucos, porém, essas brincadeiras de rua
foram sendo esquecidas pela garotada. Antigamente, nos divertíamos em espaços
públicos e em convivência com várias crianças. Brincadeiras na rua ou no
quintal de casa juntos aos amigos, essa era a verdadeira essência daquele
tempo. Brincar até escurecer ou como dizia minha avó “até a boca da noite” e só
entrar para casa quando nossos pais chamassem com uma chinela na mão e
tentávamos ser mais velozes que a chinela voando. Eram brincadeiras simples,
mas muito divertidas.
O que mais vemos hoje em dia são crianças trancadas dentro de casa, em frente a computadores, videogames e televisores. Jamais saberão o quão era divertido nos juntarmos ao meio dia para brincar de comidinha e olha que era comida de verdade, pegávamos as panelas que nossas mães não queriam e cada um trazia uma comida que tivesse em casa para ser nosso almoço/lanche. Em seguida uma criança “sortuda” era escolhida para fazer o fogo, pois nossas comidas eram feitas na hora e com gostinho de fumaça, e sempre tinha aquela pessoa que queria ser a mãe dos outros, pois ficava apenas dando ordens para o que tinha que ser feito. E nessa brincadeira cada um tinha sua função, algumas eram cozinheiras, outras arrumavam o espaço onde iríamos comer, e tinha aquelas espertinhas que ficavam só esperando tudo ficar pronto. Logo após começava comilança, em volta de uma mesa ou até mesmo no chão, cada uma se servia, mas tinha que ser democrática, pois todas tinham que comer. E pense em uma comida gostosa, nem sei se era a fome ou era gostosa de verdade. E logo após, todo mundo com o “bucho” cheio, era a hora de conversar sobre o que iríamos fazer no restante do dia. E só esperávamos a comida fazer digestão para nos lançarmos em outras brincadeiras.
Outra doce lembrança da infância era os
famosos banhos nos rios e lagoas. Quem nunca saiu escondido para ir nesses
lugares que atire a primeira pedra, la a brincadeira era garantida,
fazíamos as brigas de galo (um em cima do ombro do outro e a disputa era em
dupla para ver quem derrubava um ao outro primeiro) e levávamos muito a sério
essa competição. Também tinha o famoso esporte “natação” que era uma competição
para ver quem chegava de uma margem do rio a outra, tinha uns que eram os
verdadeiros César Cielo e outros que desistiam no meio do caminho, e ninguém
ganhava nada com isso, apenas o gostinho de ficar se exibindo para os demais
como ganhador. E os esportes não paravam por aí, afinal erámos atletas e nem
sabíamos, tinham os saltos ornamentais, mas esses saltos eram diferentes, nos
“atrepávamos” em árvores que tinham perto dos rios/lagoas e nos atirávamos como
se não houvesse o amanhã, lá do galho mais alto, coitado daquele que caia de
peito na água, esse aí estava ferrado! É nessas horas que acredito que tínhamos
um anjo protetor. E quando a maré estava seca e não podíamos tomar banho, a
viagem não poderia ser perdida, então íamos caçar “aratu” (uma espécie de
caranguejo) e era uma briga feia entre o bicho e as crianças. Quando voltávamos
desses banhos eram com os dedos tudo enrugados e tremendo de frio, uma fome
danada e comendo tudo que víamos pela frente ou melhor dizendo tudo que víamos
nas árvores, e também pensávamos na “pisa” que iríamos levar, mas mesmo assim o
sorriso continuava no rosto.
E
as brincadeiras não paravam por aí, pois o “culumim” raiz não se cansava nunca,
passávamos o dia brincando no meio do
sol quente de macaco-atrepado, esconde-esconde e da mancha pelos cajueiros,
morros e ruas. E para aqueles dessa nova geração vamos explicar um pouco em que
consistia essas brincadeiras. A brincadeira Macaco-Atrepado funcionava assim: primeiro começava
com todos no chão, era escolhido um pegador e nesse momento “pernas para que te
quero”, todo mundo tinha que correr o mais rápido possível e escolher uma
árvore ou algo que pudesse ficar “atrepado”, pois aquele que não conseguisse
subir em algo era pego e começaria outra rodada. A outra brincadeira era o
esconde-esconde, talvez essa brincadeira não tenha mudado tanto hoje em dia e
todos ainda brinquem: ela consistia em escolher quem seria a pessoa
responsável por contar até o número definido, enquanto as demais se escondiam (todo
mundo que contava ficava com tanta pressa, que nunca pronunciava trinta-e-um,
mas sim,” 1, 2,3... T1)eee...lá vou eu! Depois desse grito, era tentar
esconder-se o mais rápido possível para que o pegador não conseguisse ver nem o
seu vulto, mas para isso tínhamos que ter “sebo nas canelas” e "dá na carreira”. Quem estava escondido
tentava bater "1,2,3 salve eu" no lugar indicado e, quem estava
tentando achar as pessoas batia o nome delas neste mesmo local.
O primeiro a ser "achado" era quem contava na próxima, a não ser que
um benfeitor (o último a sair do esconderijo) conseguisse bater o famoso “1,2,3 salve todos”. E a outra brincadeira
é a Mancha que também tinha um pegador que saia feito doido atrás das
crianças e também tinha um local fixo para que pudéssemos sermos salvos, quem
não conseguisse chegar no local sem ser pego viraria o próximo pegador.
E
quando chegava à noite, os pais achavam que iríamos descansar, mas que nada! Saíamos
para brincar na rua, da famosa brincadeira de polícia e ladrão, coisa que criança sempre gostou foi de
interpretar personagens.
Por isso, essa era uma das brincadeiras mais famosas pelos bairros.
Fácil de brincar, precisava apenas das pessoas e de um local específico para
ser a "cadeia". Uma parte do pessoal fingia ser polícia, a outra
ladrões. A partir daí, a festa acontecia. Os ladrões tinham que correr da
polícia e a polícia, logicamente, tinha que prender todos. E essa
brincadeira ia longe, pois tinha gente que levava muito a sério e ia se
esconder em outros bairros para que não fosse pego. As vezes a brincadeira
terminava e o “meliante” não era pego. Nesse momento tirávamos coragem não sei
de onde, pois os “culumins” eram bichos corajosos.
Tinha noites que as crianças estavam muito “enfadadas” do sol e de
passar o dia brincando, que as brincadeiras eram mais “leves” como o boca de
forno, onde tinha um senhor que tínhamos que fazer tudo o que ele mandasse,
caso contrário levávamos “bolo” (uma grande chinelada na mão) para aquele que
não cumprisse as ordens. Primeiro passo, era escolher uma pessoa para ser “o
senhor”, esta pessoa iria dar as ordens na brincadeira, os demais participantes
tinham apenas que cumprir suas ordens. E quem não lembra desse famoso jargão:
Senhor: – Boca de
Forno!
Crianças: – Forno.
Senhor: – Faz o que eu
mandar?
Crianças: – Faço.
Senhor: – Se não
fizer?
Crianças: – Toma bolo.
Então o “Senhor” pedia
para que as crianças pegassem um objeto. A ordem consiste em achar um
determinado objeto, caso a criança não conseguisse encontrar e trazer o objeto
pedido, ela levava um bolo.
E depois de tudo isso sentávamos em frente ao “terreiro” para escutar as histórias dos mais velhos das quais eram histórias de terror ou de suas aventuras de pescarias. Nesse momento os “culumins“ já estavam tão cansados que dormiam na areia ou no colo dos pais. No outro dia nem sabíamos como fomos parar em nossas redes.
São
tantas brincadeiras, tantas lembranças que poderia passar o dia inteiro
escrevendo. Oh! Quantas saudades tenho.
Se eu tivesse um desejo queria voltar ao tempo e reviver tudo outra vez,
brincadeiras, amizades e o principal, sem a maldade das pessoas para com as
crianças, pois são os seres mais inocentes, frágeis e que só querem amor e
carinho. E para a sociedade, diria: parem de erótizar a infância, deixem as
crianças serem crianças. E que a infância é uma fase que passa muito rápido e
precisa ser vivida com toda intensidade, sem a maldade dos adultos. E deixem as
crianças serem felizes como erámos no passado. E para as crianças, diria:
Brinquem, mas brinquem muito para que no futuro vocês possam está contando as
memórias as outras gerações e revivendo tudo isso com um sorriso estampado e a
felicidade no peito.
Escrito por: YASMIM DE SOUZA SILVA, ilhagrandense, formada em Pedagogia pela Universidade Federal do Piauí - Parnaíba, Especialista em Educação Especial e AEE.
A canção nos conduz a nostalgia: "Acorda, criançada, tá na hora da gente brincar (oba!)
ResponderExcluirBrincar de pique-esconde, pique-cola e de pique-tá, tá, tá, tá..." (Brincadeira de Criança - Molejo)