domingo, 25 de abril de 2021

SOBRE AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

 





O que são Unidades de Conservação – Ucs APA E RESEX Delta do Parnaíba?

Antes de qualquer discussão sobre UC, precisamos contextualizar esse universo da política; ações para que chegássemos às unidades de conservação como temos atualmente.

Assim, precisam-se voltar às discussões no início de 1976, num trabalho denominado “Uma análise de prioridades em conservação da natureza na Amazônia”, que fundamentou a elaboração do Plano do Sistema Nacional de Unidades de Conservação do Brasil, publicado entre 1979 e 1982.

Na sequência das ações sobre conservação, em 1981, foi instituída a Política Nacional do Meio Ambiente, estabelecendo como princípio, “a ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público”. Ainda em 1981, foi criado o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA – e o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. Que se consideram a base sobre o assunto e abrem caminhos para que outras ações pudessem acontecer nesse âmbito da conservação da Natureza como um patrimônio vivo e para o bem viver das pessoas nos territórios relacionados às UCs.

Deste modo as UCs, quando criadas,  têm como objetivos  garantir os atributos ecossistêmicos em uma determinada região, seja em áreas terrestres ou marinhas, buscando a manutenção socioambiental nesses lugares conforme o tipo de unidade de conservação criada.

Neste sentido, o Brasil conseguiu concretizar a aprovação da Lei nº 9.985, de 18 de julho 2000, instituindo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação o (SNUC), o qual abrange as unidades brasileiras, sendo, portanto, o instrumento legal das UC­­`s, tanto em questões de criação, implantação e controle, como no tocante à gestão destas (BRASIL, 2000). Esta Lei foi um grande passo para concretizar e proteger áreas naturais do País, território onde habita a maior concentração de biodiversidade do planeta.

O SNUC proporcionou uma grande integração no sentido de aglutinar todas as Unidades de Conservação, nos âmbitos, federal, estadual e municipal. A responsabilidade da concretização destes objetivos está na jurisdição do Conselho Nacional de Meio Ambiente, o qual deve acompanhar a implementação do SNUC, sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio – o qual, desde 2007, assumiu a gestão das unidades de conservação federais até então sob a responsabilidade do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.   

Contudo, o SNUC tem ainda grandes gargalos futuros para sua real efetivação na prática, embora grandes passos já tenham sido dados, objetivando relações mais harmoniosas entre o meio ambiente e desenvolvimento social e econômico do Brasil. Questões como: assegurar a sustentabilidade financeira do SNUC; dotar o mesmo com pessoal, em número e qualificação adequados; providenciar a regularização fundiária das unidades de conservação, são pautas que ainda estão sendo resolvidas para sua consolidação.

Este mesmo Sistema dividiu as UC`s em duas categorias de uso: Proteção Integral e de Uso Sustentável, ficando classificadas como as de Proteção Integral: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque, Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre (BRASIL, 2000). Estas UCs de proteção integral são, em sua maioria, localizadas em ambientes de grande importância ecológica, tendo também uma fragilidade: a significativa intervenção humana sobre estas, que deve ter uma atenção e restrição especial do uso, tanto do ponto de vista do bem-estar da natureza como para não causar desequilíbrios nestes ambientes.   

As UCs de Uso Sustentável, por sua vez, são: Área de Proteção Ambiental -APA, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista -RESEX, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural (BRASIL, 2000). Nessas unidades, como o próprio nome sugere, é permitido o uso sustentável dos recursos naturais, desde que de forma controlada e monitorada, com preocupação de uso para as futuras gerações, como é caso das UCs APA e RESEX do Delta do Parnaíba.


Mapa da região do Delta, mostrando de verde o território dos municípios; de vermelho a área da APA; de azul a área da RESEX. 

        Exposto tudo isso, pode-se entender melhor os motivos de criação de duas unidades de conservação federais no Delta do Rio Parnaíba. Pretende-se ir mais afundo sobre as características que levaram criação da: Área de Proteção Ambiental – APA Delta, criada em 1996 e Reserva Extrativista - RESEX Marinha do Delta do Parnaíba, criada em 2000, através de decretos federais, após vários estudos, bem como a pedido das comunidades, para salvaguarda do patrimônio ambiental ou socioambiental, sociocultural e socioeconômico no território.

Sendo que as ações têm que ser de baixo impacto ao meio ambiente. Assim, é que quando se têm atividades “incompatíveis” com os objetivos das UCs criadas a partir das características do ecossistema, essas atividades socioeconômicas são gradativamente extintas desses territórios protegidos, pois elas colocam em risco toda manutenção do ecossistema qual a UC foi definida, conforme seu regime de gestão e de aspectos legais.

APA Delta do Parnaíba: é uma UC federal criada em 1996, tendo quase 25% do território composto por águas jurisdicionais e com uma população de aproximadamente de 360.000 habitantes (ICMBio, 2020). APA Delta do Parnaíba abrange três estados nordestinos: Ceará, tendo áreas dos municípios dentro da UC (Chaval e Barroquinha); Piauí, tendo áreas dos municípios dentro da APA (Cajueiro da Praia, Luís Correia, Parnaíba e Ilha Grande) e; Maranhão tem áreas dos municípios dentro da Unidade (Araioses, Tutóia, Água Doce, Paulino Neves). 



mapa mostra em destaque as 3 maiores ilhas do Delta do Rio Parnaíba: Ilha Grande de Santa Isabel, Ilha das Canárias e Ilha do Caju.

No interior da à APA Delta do Parnaíba encontram-se três outras UCs: APA da Foz do Rio Preguiças - Pequenos Lençóis, UC do estado do Maranhão que ocupa quase 40% de seu território; a Reserva Extrativista (RESEX) Marinha Delta do Parnaíba, UC federal, ocupando cerca de 9% do seu território e a RPPN Ilha do Caju, equivalente a menos de 0,04% de sobreposição. A região do Delta do Parnaíba possui vegetação de tabuleiros, restingas, manguezais, mata ciliar de várzeas e vegetação sobre dunas (IBAMA, 1999). A APA está localizada entre áreas de Cerrado e Caatinga, e é sujeita a forte influência amazônica na sua porção maranhense (KJERFVE & LACERDA, 1993).

Além disso, possui uma zona costeira constituída por um sistema contínuo de manguezais, com o aporte de grandes quantidades de água doce, provenientes de extensos rios e igarapés e altas variações de amplitudes de maré.

A pesca é fonte de saberes, fazeres, de alimento e renda para os moradores das comunidades da APA Delta do Parnaíba, que tem nessa atividade, a mais significativa atividade econômica e de fonte de renda para milhares de moradores nesse território dentro dos três estados CE, PI e MA.

Além disso, a pesca se caracteriza por ser principalmente artesanal e utilizar diferentes artes de pesca, conforme as regiões e recursos pesqueiros visados. É uma atividade tradicional, passada de pais para filhos, assim como os conhecimentos associados à sua prática e experiência, que estabelece uma relação intrínseca homem  e a natureza. Outras atividades tradicionais significativas como a agricultura familiar, a criação de animais, o extrativismo de sementes e frutos, também dependentes dos ciclos das chuvas, estão associados à subsistência e à segurança alimentar das famílias, muitas vezes complementando a renda de outras atividades como a pesca.

O funcionamento de portos, exploração de calcário, artesanato, desembarque e quebra de caranguejo, piscicultura e carcinicultura, salinas e empreendimentos de energia eólica também são atividades que ocorrem na UC. A APA Delta do Parnaíba faz parte do roteiro turístico Rota das Emoções, que abrange ainda o Parque Nacional de Jericoacoara, no Ceará e o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, no Maranhão. Esse roteiro integrado possibilitou uma ampliação do fluxo de visitação nessas unidades, no entanto, como toda atividade socioeconômica dentro de territórios sensíveis do ponto de vista ambiental, é preciso que seja feito um constante acompanhamento, pois existem conflitos e sobreposições com atividades tradicionais quando o turismo não é bem planejado e executado.    

Dunas e manguezais dividindo espaço em meio ao Delta.

Com essa diversidade de atividades, atores e ambientes na região que abrange a APA Delta do Parnaíba, têm diversos conflitos, jogos de interesses que muitas vezes sobreposições de atividades, ocasionando assim perdas para uns,  concentração de renda para outros e danos ambientais muitas vezes irreversíveis ao ambiente que é Delta do Parnaíba, pois o Delta é uma metamorfose de vida e transformações naturais pelas movimentações de sedimentos (areia, material orgânica) que vem descendo do Rio Parnaíba até o Atlântico, criando muitas dunas, ilhas e vida nesse imenso Delta. Deste modo, a necessidade de disciplinar as ações antrópicas nesse território ou criando UCs para conserva-lo.

Assim, é preciso participação de todos e todas na gestão do território, seja ele unidade de conservação ou em uma cidade. É chave que todos os entes, sejam eles: federais, estaduais, municipais e terceiro setor possam agir, participar, monitorar e fiscalizar.  Não só na temática de UCs, mas de todos os assuntos, necessidades que têm efeitos sobre a vida das pessoas e do meio ambiente.

Um exemplo que é preciso uma atuação firme da sociedade, que não teve-se, pois a APA Delta demorou 24 anos para ter seu instrumento de gestão base (Plano de Manejo). O plano que dará condições para uma melhor tomada de decisão, tendo somente sua elaboração concluída em 2019 e publicação em 2020. Sendo o que consta no SNUC é que UC tem 5 (cinco) anos para ter um plano após sua criação. No entanto, faltam recursos, pessoal, pressão social, etc.

Além disso, falta priorização sobre a pauta da política socioambiental brasileira.  Isso mostra que os desafios foram e serão enormes para conservação do território dessa UC, sendo fundamental uma participação ativa de todos para bem comum do território e das gerações futuras no Delta do Parnaíba.


Chegada dos pescadores no porto.

As Reservas Extrativistas – RESEXs são caracterizadas principalmente por ser uma área utilizada por populações tradicionais que praticam extrativismo, pesca  agricultura familiar e criação de animais de pequeno porte, seu objetivo é proteger os meios, modos de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade de forma equilibrada homem e a natureza.

Nesse contexto, para garantir a exploração autossustentável e a conservação dos recursos naturais renováveis tradicionalmente utilizados pelas populações extrativistas da região do Delta do Rio Parnaíba foi criada a Reserva Extrativista Marinha Delta do Parnaíba, através do Decreto S/N de 16 de novembro de 2000, sua área pertence aos municípios de Ilha Grande, Estado do Piauí, e nos Municípios de Araioses e Água Doce, Estado do Maranhão, sendo que 95% estão em áreas do maranhense e demais 5% em território piauiense.  Seu ecossistema característico é o manguezal e seus habitantes, vivem basicamente da extração do caranguejo uçá, da pesca artesanal, coleta de moluscos, da agricultura familiar, frutos,  turismo e criação de animais em pequena escala, pois não é permitido criações de animais de grande porte dentro de Resex, conforme o que consta na legislação. Mesmo tendo gado ainda dentro da Resex, pois era uma atividade econômica anterior a criação da UC. Assim, vem sendo feito discussões para uma diminuição gradativa do rebanho dentro da Unidade.


Estamos falando de uma região impar dentro do território brasileiro, o único delta em mar aberto das Américas, formado por mais de setenta ilhas, tendo uma fauna e flora singulares com espécies raras e endêmicas. Essas riquezas faz essa região receber quase 60 mil turistas/visitantes por ano, no entanto, as comunidades tradicionais da Resex ainda pouco se beneficiam desse turismo. Por isso, que a partir de 2018, as comunidades vêm buscando programar o Turismo de Base Comunitária – TBC, pode-se dizer que vários passos para esse desenvolvimento foram e serão dados, bem como de outros vários arranjos produtivos como: cata do caranguejo, pesca, cata de moluscos e extrativismo vegetal precisam de uma atuação pesada do poder público para fortalecer os arranjos, dando assim condições e ampliando a efetivação dos objetivos do território criado para as pessoas que vivem nesse espaço protegido.

Imagem ilustrativa de loteamento dos empreendimentos Pure Resorts para a praia do Cutia (2016). https://tribunadonordeste.com/pure-resorts-parnaiba-mudara-historia/

No entanto, a Resex por estar em uma região de muitas belezas tem chamado atenção de algumas especulações de várias forças que visualizam a UC como algo ruim, pois sabemos quanto área/pauta socioambiental vem sofrendo com atual modelo de Governo Federal vigente. Até tendo fala e ações do mandatário do Ministério do Meio Ambiente – MMA que seria o momento e “passar a boiada” diante do cenário de pandemia sobre mudanças na legislação socioambiental. Isso por si só, mostra quanto tem de desafios sobre como efetiva UCs no Brasil e evidenciando esses territórios como fontes de vida para as presentes e futuras gerais, seja no do Delta do Parnaíba ou em outro recanto do Brasil.

Um detalhe diferente das APA´s, a gestão das RESEX é feita em cogestão com ICMBio, através do conselho deliberativo da Unidade, que é diferente do Conselho de uma APA, que é meramente consultivo. Além disso, os comunitários através da Associação Mãe da Resex do Delta – AMAR Delta, atualmente são detentores do Contrato de Concessão do Direito Real de Uso – CCDRU, assinado em 2018 pelo o ICMBio e AMAR Delta.

Esse contrato permite mais responsabilidades ao território, bem como mais segurança que o território continuará sendo para as comunidades tradicionais. Outra característica importante das RESEXs é que não existe propriedade privada dentro do território, todo o território é de domínio público para usufruto dos moradores locais da UC de forma sustentável.

Além disso, a assinatura promoveu a regularização fundiária para as populações tradicionais, permitindo o acesso às políticas públicas e aos programas públicos e segurança para realização de benfeitorias voltadas à produção.


 Deste modo, é necessário criar vários instrumentos de gestão para o território. E mais importante é que esses instrumentos são construídos pelos próprios comunitários, extrativistas. Isso não é uma atividade fácil dentro de uma realidade que falta recursos financeiros e humanos para uma efetiva cogestão do território. Atualmente dentro da Resex do Delta do Parnaíba tem regramentos sobre: tamanho dos pescados que podem ser capturados, tamanho do caranguejo pode ser catado, ostra, definições de certos locais para pesca somente com um apetrecho, limitação da prática do esporte do kite surf dentro da Resex, que é proibido por meio de resolução do conselho deliberativo, é proibido que lanchas, barcos passe em alta velocidade próxima dos portos das comunidades, através de portaria pública pelo ICMBio.

Isso tudo, pensando na manutenção dos recursos naturais e modo de vida dos moradores locais, pois a UC foi criado para viabilizar a conservação e uso autossustentável dos recursos pelas comunidades tradicionais e extrativistas.

Além disso, se Delta do Parnaíba ainda se encontra “conservado” é pelo fato que existe duas UCs nesse território: APA e Resex Delta do Parnaíba, para, além disso, têm-se centenas de comunidades que dão vida e buscam do seu jeito de ser, de realizar suas atividades e viverem de modo mais equilibrado com a natureza.  

Pode-se ter certeza, sem essas UCs criadas há mais de duas décadas, o Delta do Rio Parnaíba seria algo “feio” e espaço para poucas comunidades tradicionais. Como já mencionado, desafios existem. Isso demanda uma participação ativa da sociedade para cobrar e fortalecer lutas em defesa da vida e da natureza. Sem natureza conservada, não teremos vida humana. Cuidar da nossa “Casa Comum”, do planeta terra é algo urgente!

Escrito por: LUCIANO GALENO, Turismologo, Conselheiro das UCs APA e Resex Delta, Educador Social - CPP e Associado da ONG Comissão Ilha Ativa - CIA.


Ilha Grande – PI, 25 de abril de 2021.

Carta Ilhagrandense.

Dos autores ao povo


domingo, 4 de abril de 2021

ITINERÁRIO ANUAL DA PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

 

ITINERÁRIO ANUAL DA PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

Igreja Matriz - Paroquia Nossa Senhora da Conceição.


Enquanto paroquiano pertencente à Ilha Grande de Santa Isabel, não se pode seguir viagem ou iniciar qualquer diálogo sobre a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, criada em 29 de novembro de 1985 através do Decreto Episcopal, sem percebermos a imagem de um Padre amigo, irmão e pai: Padre Pedro Quiriti (In memoriam) que quis proporcionar aos seus paroquianos uma experiência significativa com Jesus Cristo a partir da vivência da caridade, mesmo antes de assumir como primeiro pároco. Fato este, percebido nos quatro cantos da Ilha Grande de Santa Isabel, onde se encontram as comunidades com suas casas de orações (São José, Boa Vista, Alto do Batista, Vazantinha, Santa Isabel, Alto do Moreno, Barro Vermelho, Ilha da Batatas, Canto do Igarapé, Labino, Bom Jesus, Pedra do Sal, Nossa Senhora da Luz, Baixão, Cal, Tatus e Matriz), mantendo assim, a unidade de Ilha tão desejada pelos líderes do movimento pela emancipação política de Ilha Grande, município no qual, fica localizada a Igreja Matriz da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição.

832. “A Igreja de Cristo está verdadeiramente presente em todas as legítimas comunidades locais de fiéis que, unidas aos seus pastores, recebem, também elas, no Novo Testamento, o nome de Igrejas [...]. Nelas, os fiéis são reunidos pela pregação do Evangelho de Cristo e é celebrado o mistério da Ceia do Senhor [...]. Nestas comunidades, ainda que muitas vezes pequenas e pobres ou dispersas, está presente Cristo, por cujo poder se constitui a Igreja una, santa, católica e apostólica”.

                                                                                             (Catecismo da Igreja Católica)

Padre Pedro Quiriti deixa escrito no Livro Tombo da Paróquia uma carta aberta dividida em 18 parágrafos, escrita em 30 de junho de 1997, onde expressa seu desejo de transmitir o ensinamento de Jesus a todos os lugares da Ilha Grande de Santa Isabel, e para esse fim, constrói “casas de orações” para que o povo tivesse um lugar onde se encontrar e discutir, dialogar e programar a própria vida, como ser humano e cristão. Atualmente são 17 comunidades,15 capelas e a Matriz, apenas a comunidade Cal não tem capela, mas é tão atuante quanta as demais, pois divide sua participação com as comunidades Tatus e Baixão, dessas, 03 (São José, Boa Vista e Nossa Senhora da Luz) tiveram suas casas de orações construídas na administração de outro homem de Deus a quem temos também o maior respeito e consideração, pois ele muito colaborou com a nossa paróquia, dando continuidade a vivência da caridade e nos fazendo perceber a realidade que é Jesus em nossa vida: Padre Vittório Ferrari.

“Como cristão me preocupei em transmitir o ensinamento de Jesus a todos os lugares da Ilha Grande. Assim, em todos os povoados desta Ilha, construí casas de orações para que o povo tivesse um lugar onde se encontrar e discutir, dialogar e programar a própria vida, como ser humano e cristão.”

       (Pe. Pedro Quirit)

Em uma das falas de Padre Pedro escrita na Carta Aberta ao povo da Ilha Grande, ele expressa grande emoção quando fala de uma de suas construções:

“Como missionário agradeço de todo coração a Deus, que quis que me tornasse um devoto de sua Mãe Santíssima no meio deste povo, construindo para eles e para o estado do Piauí, um santuário dedicado à Mãe dos Pobres e Senhora do Piauí [...]”

                                                                                          (Pe. Pedro Quirit)

 É com essa emoção e esperança que é iniciado o itinerário anual da paróquia com o tríduo em honra à Nossa Senhora Mãe dos Pobres e Senhora do Piauí que acontece de 12 a 15 de janeiro para celebrar o dia da entronização da Imagem no alto do morro na manhã radiosa do dia 15/01/1989, sendo aquele dia o 56º aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora Mãe dos Pobres em Banneux (Bélgica). São três dias de muitas graças e bênçãos que conta com a participação de paroquianos de todas as comunidades, devotos de outras cidades e visitantes de outros estados e países.

 Coincidência ou não a segunda festa e primeiro novenário do ano acontece na comunidade da luz que tem como padroeira: Nossa Senhora da Luz (também chamada de Nossa Senhora das Candeias), segundo os paroquianos mais experientes, a primeira imagem a fazer parte da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição foi uma imagem de Nossa Senhora da Luz. A Festa acontece quarenta dias após o nascimento de Cristo, sendo celebrada, portanto, no dia 2 de fevereiro. A capela lá existente surgiu do esforço conjunto dos moradores da localidade, que viam a necessidade de um local para a realização de encontros de catequese, ainda na administração de Padre Vittório Ferrari, que sempre quis estar presente construindo junto com a comunidade e sempre muito cuidadoso nos detalhes das construções.

Além dos festejos nas comunidades são valorizados os tempos litúrgicos anuais, em especial, a época considerada a mais importantes pela Igreja, que representa para os fiéis um momento de preparação espiritual para a Páscoa: a Quaresma. Além das celebrações que acontecem mensalmente, as comunidades são convidadas a realizarem a Via Sacra todas as sextas-feiras. É o momento também, que muitos jovens além de se prepararem espiritualmente, se preparam para apresentarem nas ruas da cidade a encenação da Paixão de Cristo (devido à pandemia, no ano de 2020 não aconteceu a encenação). É um momento que atrai paroquianos de todas as comunidades próximas à Matriz, o qual, ainda não sabemos se será realizado no ano de 2021.

A paróquia segue caminho com seus novenários, trazendo a presença de São José Operário, festejado na comunidade São José no dia 01 de maio, dia do trabalhador. Completando assim, a Sagrada Família, com o desejo de que a caminhada de todas as famílias seja fortalecida. Essa comunidade fica localizada na zona rural da cidade de Parnaíba e teve uma atenção especial na administração de Padre Vittório Ferrari que organizou um local de encontros para aquelas famílias, que a partir de então, deixaram de celebrar na escola da localidade. No ano de 2020, Papa Francisco convocou para um Ano especial dedicado a São José, que se realizará do dia 08 de dezembro de 2020 a 08 de dezembro de 2021, sendo portanto, um ano mais que especial para aquela comunidade.

O mês de Maio como sempre é um momento forte de caminhada e oração para todas as famílias que se organizam e celebram o mês de Maria com a reza do terço, compartilhando a Palavra de Deus e cantando canções marianas nas casas de alguns católicos que desejam receber a imagem de Nossa Senhora e assim, aceitá-la até a noite seguinte, quando vários adultos, jovens e crianças se reúnem para levar o andor com a imagem e entregá-lo à nova família.  Além desse momento mariano forte, todos os fiéis são convidados a celebrarem todas as manhãs de sábado no Santuário da Mãe dos Pobres e Senhora do Piauí. Seguindo viagem, o caminhar chega à comunidade Barro Vermelho, onde é celebrado o tríduo de Nossa Senhora de Fátima que tem sua festa dia 13 de maio.

Capela Baixão 
Foto: Caio Soares


O mês de Maria continua nas comunidades Baixão e Cal, que antes eram as primeiras a realizarem o novenário (segundo o relato de uma antiga moradora presente em uma reunião onde Padre Pedro falava: “Que coincidência divina, as festas da paróquia iniciam com Maria e terminam com Maria.”). Isso porque, quando ainda na época de Padre Pedro o primeiro festejo era em honra ao Imaculado Coração de Maria e o último era e ainda é em honra a Nossa Senhora da Conceição. As comunidades festejam o Imaculado Coração de Maria sempre no último domingo do mês, a imagem da padroeira foi trazida por Padre Pedro que doou-a à comunidade. O festejo atrai pessoas de todos os lugares, lhes proporcionando nove noites de celebrações, onde é percebido grande alegria das pessoas envolvidas, principalmente, moradores das comunidades Baixão e Cal que tornam a festa ainda mais bonita. A comunidade também tem como co-padroeiro, São Leopoldo Mandic, o qual, traz muitas lembranças de Padre Pedro que se demonstrava muito próximo, por ter tido o privilégio de conhecer pessoalmente e receber o sacramento da reconciliação (ou penitência) por meio dele. É realizado um tríduo em homenagem a São Leopoldo Mandic no mês de outubro, tendo o seu encerramento dia 17.


Capela Santo Antônio - Vazantinha
Foto: Rafael Viana

O mês de junho proporciona aos paroquianos um caminhar maravilhoso, onde se maravilham com as belezas deixadas por nosso Criador, e assim, são acolhidos na comunidade Vazantinha que festeja o padroeiro Santo Antônio no dia 13, trazendo devotos de várias localidades. São nove noites de muitas graças e bênçãos, encerrando a festa com uma linda procissão. Daqui o caminhar segue viagem para a comunidade Ilha das Batatas que realiza seu tríduo também em honra a Santo Antônio, encerrando a festa dia 16 de junho.

Celebrar o nascimento é sempre muito importante e quando se trata do nascimento de São João Batista, aquele que abriu caminho para Jesus Cristo, se torna ainda mais especial e essa festa acontece na comunidade Alto do Batista, tendo seu encerramento no dia 24 e proporcionando aos seus moradores momentos de alegria e encontro.

Igreja de São Pedro - Tatus


A próxima beleza a ser percebida neste mês de junho é a da comunidade Tatus, onde são celebradas nove noites do Santo considerado o chaveiro do céu: São Pedro. Esta comunidade divide sua alegria com a comunidade Cal, proporcionando aos participantes momentos de muitas alegrias sempre na presença de Deus. A comunidade que antes vivia da pesca e da agricultura, hoje, vive principalmente do turismo, sendo porta de entrada para o Delta do Rio Parnaíba por meio de seu porto, de onde saem as embarcações pertencentes às agências de turismo das cidades de Parnaíba e Ilha Grande. Para o dia da festa as embarcações são cedidas por algumas agências de turismo para a realização da procissão fluvial, em forma de agradecimento pelo bom ano de viagens com seus visitantes aos pontos turísticos mais próximos.

Bom Jesus dos Navegantes - Comunidade Pedra do Sal
foto: Voz de Ilha Grande


Começando o mês de julho na comunidade Pedra do Sal, os paroquianos apreciam mais um cenário maravilhoso criado por Deus, que revigora as energias para festejar o padroeiro Bom Jesus dos Navegantes, com nove noites de muitas alegrias e bênçãos, tendo encerramento com procissão por terra e/ou embarcado no dia 11.

Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Pobres 
Foto: Rafael Viana

Os caminhos a escolher são vários, mas só o caminho do Bem mostra-nos a essência da vida: Deus. O zelo missionário, a preocupação pela limpeza e estruturação dos templos sagrados e seu amor pelos mais necessitados, fez com que Padre Pedro Quiriti (in memoriam), recorresse a amigos influentes de sua terra – Itália e construísse um Santuário em um morro frontal à praça principal da cidade. Ali encontra-se uma belíssima imagem de Nossa Senhora Mãe dos Pobres que chegou de Milão como presente ao povo da Ilha e passou a ser também a Senhora do Piauí. É festejada por devotos vindos de várias paróquias vizinhas, estados e países. O novenário acontece do dia 21 a 30 de julho, é um momento maravilhoso de graças e bênçãos, onde é vivenciado a alegria de ser cristão.

A caminhada continua pela comunidade Alto do Moreno que tem como padroeiro São João Batista que através do martírio, deu sua vida e recebeu em recompensa a Vida Eterna reservada àqueles que vivem com amor e fidelidade os mandamentos de Deus. O dia da festa acontece em 29 de agosto e é vivenciada com grande alegria por todos da comunidade.

Ao chegar em Boa Vista, primeira comunidade a receber a atenção especial de Padre Pedro Quiriti ao pisar em terras ilhagrandenses em 1983 e que com o passar do tempo passou a contar com a atenção e carinho de Padre Vittório Ferrari. É percebido o respeito e o carinho aos citados padres, principalmente, ao Padre Vittório Ferrari que ganhou uma vila de casas que leva o seu nome. É importante ressaltar que o terreno onde encontra-se a vila, foi uma doação de Padre Vittório. A comunidade festeja o padroeiro São Vicente de Paulo no dia 12 de setembro.

Capela São Miguel - Comunidade Bom Jesus - Labino
Foto: Fanca


Uma das mais novas comunidades a fazer parte da paróquia é Bom Jesus, onde se encontra uma capela de propriedade particular da família Silva, que desde o ano de 2017 com a chegada de Padre Henrique, foi assumido por ele o compromisso de celebrar uma vez por mês, e assim, os moradores do bairro participam com muita alegria da vida em comunidade desde então. Tem como Padroeiro São Miguel, que ali é festejado com um tríduo que se encerra no dia 19 de setembro. É um momento de encontro e alegria dos moradores das comunidades Labino e Bom Jesus.

Ao seguir viagem partindo de uma nova comunidade chega-se ao Canto do Igarapé, que tem em sua história a força de um povo trabalhador e unido por dias melhores. A comunidade possui uma das capelas mais antigas da paróquia com registro de 1958 e seu padroeiro é São Miguel Arcanjo festejado dia 26 de setembro, atraindo devotos de vários lugares e reunindo pessoas que vivenciaram bons momentos nessa localidade.

Capela São Miguel Arcanjo - Canto do Irapé 
foto: Rafael Viana


Finalizando o mês de setembro é iniciado o mês de outubro com o festejo em honra a São Francisco padroeiro da comunidade Labino, que realiza sua festa no dia o4 com a presença marcante da juventude. A festa atrai devotos de vários lugares.

Igreja Santa Isabel - Comunidade Santa Isabel 
Foto: Rafael Viana


A Ilha Grande de Santa Isabel traz em seu nome a padroeira da Comunidade Santa Isabel, que além de padroeira da comunidade, recebe o título de padroeira de toda a Ilha. A Capela é a mais antiga da paróquia com registro de conclusão no ano de 1944 e tem seus festejos realizados de 26 de outubro a 05 de novembro, é uma grande festa que atrai devotos de todas as comunidades da paróquia e paróquias vizinhas. Tem ainda como co-padroeiras Nossa Senhora da Cabeça e Santa Luzia, sendo celebradas respectivamente em 18 de agosto e 13 de dezembro com a participação de muitos devotos.

E por fim chega-se à Matriz, lá onde até meados do ano de 1940 havia uma capelinha que resolveram ampliar com a ajuda da comunidade local, sendo construída uma outra maior e voltada para o lado oposto à anterior, ou seja, para a entrada principal do povoado, tendo sua inauguração no ano de 1946. Encontramos nessa linda Matriz a padroeira da paróquia: Nossa Senhora da Conceição. Atualmente foi realizada uma reforma significativa onde, preservou-se a sintonia entre as cores do piso e o forro da Igreja, o que arrancou lágrimas de emoção de pessoas que haviam percebido o resgate dessa sintonia já existente em tempos passados. O belíssimo trabalho foi realizado na administração paroquial de Padre Heinrich Wilhelm Hegemann que tem origem alemã e encerra assim, o ciclo de atuação de párocos estrangeiros, ele esteve pároco de julho de 2017 a fevereiro de 2021, período em que foram realizadas reformas significativas em vários prédios da paróquia. A partir do dia 13 de fevereiro deste ano, assumiu como pároco Padre Eduardo Furtado que é natural da cidade de Piripiri e estará à frente da paróquia por 6 anos.   Sua padroeira Nossa Senhora da Conceição é festejada de 28 de novembro a 08 de dezembro, momento em que se reúnem visitantes e devotos de todas as 16 comunidades, encerrando assim, um itinerário anual cheio de esperança da presença de Deus na vida de cada família da Ilha Grande de Santa Isabel e do mundo inteiro.

Desde março de 2020 essas vivências de alegrias comunitárias tem sido interrompida pela pandemia da COVID-19, mas a alegria de ser cristão permanece viva. A paroquia celebrou a Páscoa de forma diferente, se adequando ao momento em que vivemos, criando para sim as mídias sociais que têm ajudado os paroquianos e pessoas de origem ilhagrandense a se aproximarem ainda mais. Para isso, foi criada uma equipe de transmissão formada pelo professor Jair Cunha e Jeferson Araújo (comunidade Cal), professor Carlos Ribeiro e seus filhos Caio Soares e Arthur Soares (comunidade Baixão). Em julho foi realizado o novenário de Nossa Senhora Mãe dos Pobres e Senhora do Piauí de forma virtual e presencial obedecendo todos os cuidados necessários de prevenção à COVID-19. Foi admirável a participação de todos os devotos. O mesmo aconteceu com a festa da padroeira para encerrar o ano de 2020. O itinerário anual de 2021 já iniciou com o tríduo de Nossa Senhora Mãe dos Pobres e Senhora do Piauí ainda de forma virtual, sendo que o momento é de cautela, mas a paróquia continuam mais do que nunca, unida em oração para que tudo isso passe logo sem causar perdas às famílias e possam assim, seguir o itinerário anual como era antes.

Cristo é a nossa paz!



 

Carlos Antonio Ribeiro dos Santos

Especialista em Docência na Escola de Tempo Integral (UFPI)

Licenciado em Pedagogia (UESPI) 

REFERÊNCIAS

PARÓQUIA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO. DIOCESE DE PARNAÍBA: informação e documentação: referência-elaboração. Ilha Grande do Piauí, 2021.

Santa Sé/ Catecismo da Igreja Católica. Brasília, Edições CNBB. 2013.


  Ilha Grande – PI, 04 de abril de 2021.

Carta Ilhagrandense.

Dos autores ao povo.