Ilha Grande teve, em 26 anos
emancipada, somente 4 prefeitos; isso torna tudo mais simples de entender. Na primeira
campanha disputaram 5 candidatos e de lá pra cá os primeiros grupos e líderes
foram se fundindo aos novos, fazendo alianças, mantendo-se sempre presentes.
Então o que pretendo é desfazer os nós ou pelo menos deixar alguns fatos mais
claros e acessíveis, para que em um futuro possamos conhecer bem e evitar
repetir os mesmos erros.
Para chegar até 2020 vou começar em 2012. Neste ano Herbert
Silva ganhou a disputa pela primeira vez após duas tentativas. A família Silva,
segundo o historiador Daniel Braga (2013), em sua
monografia “Catadores de Caranguejo do delta: história e memória
(1960-2010)”, “os Silvas” são uma família que ainda detêm maior parte
da concentração de terras em Ilha Grande do Piauí, e que por muitos anos essas
terras “serviram como curral das fazendas de gado dessa família tradicional e
de renome, que durante décadas esteve presente no cenário político local. Eram
pessoas de vida pública, ou seja, envolvidas com a política local e nacional. Nomes
como Alberto Tavares Silva, João Tavares da Silva e muitos
outros parentes, eram figuras cativas nas cadeiras do legislativo e executivo
do Piauí” (BRAGA, 2013,37). Voltaremos a falar em Herbert Silva.
8 anos atrás, quando Herbert disputou a campanha contra
Doutor Hélio, Magno Brito e Alex Alves, foi um marco importante para entender o
atual momento político da cidade. Então, em ordem
crescente de números de votos, vou apresentar os 4 cavalheiros que disputaram a
campanha em 2012 e tentar localizá-los no cenário de 2020.
ALEX ALVES ADOTADO POR ILHA GRANDE
O pai de Alex, Bento Alves, chegou
em Ilha Grande e começou fazer parte das figuras políticas 17 anos atrás;
concorreu a uma vaga do legislativo com o número 12.000 no ano de 2004. Mesmo
não tendo sido eleito, mas fazendo parte do partido de Paulo Rogério, que
ganhou aquele ano, manteve-se na política da cidade e com paciência montou um
grupo.
Distante de grandes comícios com
carro de som e palanque, Alex Alves tinha feito campanha distinta dos demais, e
ao invés de listas de promessas, dava aula aos poucos que paravam para assistir
à apresentação de suas propostas. Com um projetor de imagem e uma tela branca,
ele reinventou o modelo onde o candidato se apresentava para um multidão em
meio a gritos, algazarra, fogos de artificio e bandeiradas da plateia; o famoso
populismo.
A tentativa não parecia ser de
grande notoriedade. O filosofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel diz: “os homens,
buscando atingir seus interesses próprios, vão superando e suprimindo as suas
necessidades imediatas. Mas o fim de cada ação particular contem também um
objetivo geral e quando uma ação particular se une à outra, partindo de cada
indivíduo, as ações criam condições para toda realização e transformação
necessárias em cada época”. Como se cada ação fizesse parte de um conjunto de
experiências que, ao completar quantidade suficiente, culminasse em uma mudança
mais, digamos, concreta. Nesse sentido, mesmo tento o pior desempenho entre as
candidaturas ao executivo desde a primeira eleição da cidade, Alex aparecerá de
novo e de novo nas campanhas seguintes, assim como nas duas anteriores, não
como candidato, mas sempre como marqueteiro de campanha. Logo em 2016 estará
líder do partido que, com ajuda de Dr. Hélio, indicou o atual vice-prefeito
Edmar Pereira (o sargento) na reeleição de Herbert Silva. Trataremos de Edmar
mais à frente.
Alex participou da organização da
campanha de Paulo Rogério em 2004 ao lado de seu pai e mentor. E antes de se
tornar um conhecido dos políticos ilhagrandenses, em 2006, com 21 anos de
idade, concorreu a uma vaga de deputado distrital em Brasília. E em 2008 também
estava presente na campanha de Ilha Grande, porém contra Paulo, ajudando a
família Sertão. Em 2012 foi quando concorreu a vaga junto com o pai; em 2016
articulou aliança MDB/PR e foram vitoriosos aquele ano; foi nomeado pela
Portaria 023/2017 Chefe da Divisão de Agricultura e Pecuária, lotado na
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Meio Ambiente, Pesca e
Agricultura. Mas não está mais no cargo. E atualmente é presidente do PSD 55;
partido pelo qual o atual vice-prefeito é candidato juntamente com Bento Alves
como vice.
WordPress é um sistema livre e aberto de gestão de conteúdo para internet, voltado principalmente para a criação de páginas eletrônicas e blogs online, em 2012 Alex começou colocar informações sobre si no site, sua página está intitulada “adotado por Ilha Grande”. Leia, pelas próprias palavras de Alex, sobre a sua relação com a cidade de Ilha Grande do Piauí.
https://alexlauriano.wordpress.com/
Por
que Ilha Grande-PI?
Alex
Alves sempre gostou muito de viajar, mas com o amadurecimento, passou a
observar os municípios não como turista, mas como especulador de oportunidades.
Poderia
ser São João dos Patos-MA, Luis Correia-PI, Alcobaça-BA, Barueri-SP, enfim. As
coincidências acabaram direcionando para o Estado do Piauí, devido aos desafios
e às limitações. Mesmo sabendo que o Piauí ocupava as últimas posições
nos rankings de gestão, desenvolvimento e consolidado como o pior local para
investir, reagiu contrário aos dados e após convite oportuno decidiu que sua
estada em longo prazo seria na Ilha Grande-PI.
Um
ilha que, como já diz seu belo hino, é “Terra encantada pela natureza, Beija o rio, abraça o
mar. És cenário de rara beleza”.
Cidade do Portal do Delta, por sinal o terceiro maior delta oceânico, tem
intactos valores e nítida capacidade de desenvolvimento. Potencial indústria do
turismo é reconhecida por suas rendeiras e extração do caranguejo. Por mais
precária que esteja a conjuntura atual merece ser visitada.
Por
acreditar em seu conhecimento e que sua intuição não está errada insiste
que é possível um município melhor. O povo, que já sofre muito com o
descaso, que não vive com a devida dignidade, mas que sobrevive imbuído numa
preocupante fragilidade psicológica, transforme todo a descrença que
vive em esperança e fé. Sempre haverá dificuldades, mas há solução para tudo.
Sensibilizado
com os problemas locais sempre tentou ajudar o município no seu crescimento.
Participando de audiências públicas, fiscalizando, acompanhando a produção
legislativa municipal, propondo projetos e propostas de melhorias e
incentivando sempre a criação de grupos de pressão para fortalecer a democracia
e a participação nas tomadas de decisão. Distribuiu centenas de cartilhas de
combate a corrupção e sempre articulou diálogos direcionados para a
participação política e social. Isso sem contar os grandes eventos realizados
como a Comemoração dos 20 anos da Constituição e a comemoração do Dia do Deficiente
Físico, no qual percorreu 2 km em uma cadeira de rodas, sentindo as
dificuldades enfrentadas por um cadeirante nas ruas do centro da cidade, e
já não bastasse ter uma necessidade motora era também um mudo com problemas
para pedir ajuda aos cidadãos para que pudesse se locomover pelas calçadas.
É
fato que suas ações necessitam de mais energia e mais pró-atividade. É para
isso que está a cada dia se informando e conhecendo mais para adquirir melhor
polimento para representar e lutar pelos anseios da sociedade.
capa do livro Os Estabelecidos e os Outsiders
Afim de justificar a não
concorrência de Alex nas campanhas, mas a permanência no jogo político, sugiro
o livro “Os estabelecidos e os outsiders” de Norbert Elias e John Scotson, que
faz uma análise do comportamento das pessoas de uma certa cidade da Inglaterra.
Lá, os autores identificam dois grupos, a saber: os Estabelecidos e os
Outsiders. O primeiro grupo era constituído por pessoas que moravam na cidade a
mais tempo e que tinham relações familiares mais estreitas; enquanto o segundo
grupo era formado por recém chegados. Sem ter qualquer outra diferença, o
primeiro grupo se proclamava melhor que o segundo, somente pelo fato de estar
naquele lugar a mais tempo, criando um atmosfera preconceituosa e de
afastamento. Mas o estudo não se contenta em observar somente essa relação de
poder entre os cidadãos antigos e os novos, podendo ser alinhado em toda
relação do tipo. Assim, sempre poderemos encontrar essa divisão, internas aos
grupos, dos que exercem poder e os que sofrem o poder. Deixo como exemplo e dica
o texto ESTABELECIDOS E OUTSIDERS: TRAÇANDO UM PARALELO COM A INCLUSÃO DO
PORTADOR DE DEFICIÊNCIA NA ESCOLA, da Revista Conexões. file:///E:/Downloads/8638142-Texto%20do%20artigo-8219-1-10-20150703.pdf
Política é representatividade. Desta máxima deriva a necessidade de
todo candidato proclamar, declarar, anunciar, apregoar, divulgar, bradar,
aclamar, exaltar e consagrar pertencimento ao lugar que deseja concorrer a
cargo político. Daí pode-se observar
frases como: “17 anos de Ilha Grande”, “3 anos e 6 meses como secretaria de
saúde de Ilha Grande”, “Eu conheço a realidade de Ilha Grande”, “Alguém que
realmente tem ligação com Ilha Grande”. Todas elas são da campanha desse ano,
mas nenhuma é de Alex.
A manutenção do nome entre os candidatos, é fundamental para quem almeja chegar ao cargo máximo do executivo municipal, pois ter nome reconhecido faz parte das estratégias de quem um dia deseja ser eleito. Quem deixa o nome apagado prefere manter-se por traz da cortina e organizar toda ou uma parte da apresentação teatral.
Escrito por: JORGE CRUZ DOS SANTOS, ilhagrandense, formado em Matemática pela Universidade Federal do Piauí - Parnaíba, Especialista em Metodologia do Ensino da Matemática - FAERPI.
Lisonjeado com a textura e polimento do texto que coloca este cidadão nos anais da história deste município.
ResponderExcluirMorros da Mariana eternizado. Ilha Grande nome em processo identitário.
A classificação como outsider é feliz e pertinente e a escolha por "manter-se por traz da cortina" está atrelada a premissa: de valorizar prioritariamente a disponibilidade dos munícipes que queiram participar do processo, antes de investir em si mesmo.
O cenário politico ilhagrandense é sem paixões um misto de covardia (moral talvez) e vaidade. Por isso pessoas que não estiveram nos processos mais originários sejam hoje as pessoas que protagonizam a “apresentação teatral” das eleições.
Um reflexão talvez ácida, é relacionado à cidade que mesmo com diversas intervenções estruturais ainda tem a imagem do primeiro gestor (Henrique Sertão) nas escolas, nos calçamentos, no engajamento dos servidores públicos, na manutenção de paliativos como politicas publicas que justificam os gerundismos na resolução de conflitos que adentram a contemporaneidade com o status de: crônico.
Os políticos genuínos da cidade estão envelhecendo, membros mais jovens das famílias ainda são experimentados, mas como será o futuro da política de Ilha Grande, serão preparados outras lideranças (em escassez atualmente) ou pessoas de outras localidades serão novamente protagonistas no cenário politico?
Carisma, serviços prestados e palavras positivas em prol do desenvolvimento estão sendo os critérios para avaliar quem está preparado para a gerir a cidade. Os candidatos estão preparados? Como foi feito esse preparo? Somente sensibilidade com as causas sociais é o suficiente para garantir uma boa gestão da administração publica local?
Repetiremos os mesmos erros até quando? Será realmente nós que estamos cometendo erros? Ou os maiores responsáveis por aprovarem candidaturas estranhas são os partidos políticos? Outras instituições manipulam as diretrizes politicas da nossa cidade? Quem realmente está interessado na Ilha Grande? As riquezas da superfície são um fato, mas e as riquezas do subsolo, há mesmo petróleo? Qual será o destino da nossa cidade com os aceites de ampliação de parques eólicos, parque de energia solar, gás natural e petróleo?
Precisamos entender, pertencer, dialogar, criar e participar.
Não temos essas respostas, ainda! Queremos contar com você para criar um textos explicando essas condições, quem sabe para a primeira edição do ALMANAQUE DE ILHA GRANDE?
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